Aumentar o número de famílias que dizem “sim” e aceitam que os órgãos do ente querido que acabou de morrer sejam doados e salvem várias vidas. Este foi o objetivo do evento que reuniu 89 profissionais de saúde do Hospital Padre Albino e Hospital Emílio Carlos, de Catanduva, e mais oito instituições de saúde da região, no final de semana, em Rio Preto.
“A região noroeste de Estado já tem conseguido importantes avanços nesta área, e eventos como o desta semana colaboram para registrarmos 45 doadores de órgãos por milhão de habitantes, índice muito próximo da Espanha, referência para o mundo, com 49 doadores por milhão”, afirma o médico nefrologista João Fernando Picollo de Oliveira, coordenador da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do Hospital de Base de Rio Preto.
No encontro de sexta-feira e sábado, participaram médicos, psicólogos e profissionais de enfermagem do Hospital Padre Albino e Hospital Emílio Carlos, Hospital de Base, Hospital da Criança e Maternidade, Austa Hospital, Hospital Beneficência Portuguesa e Hospital Hapvida, Santas Casas de Rio Preto, Fernandópolis e Votuporanga.
A região noroeste paulista registra, portanto, quase o dobro da média do Estado de São Paulo, de 24 doadores por milhão, e mais do que o dobro da do Brasil (20 doadores por milhão), destacando-se em meio à realidade difícil no país. Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o grande desafio do Brasil é conseguir mais doadores e autorização das famílias.
A lista de espera brasileira em 2023 era estimada em 60 mil pessoas aguardando por um transplante, sendo mais da metade, cerca de 32 mil, à espera de um rim, e 24 mil de córnea, de acordo com dados do Registro Brasileiro de Transplantes.
Tantas famílias dizendo “sim” em momento tão difícil, de perda de ente querido, é resultado de trabalho longo, que envolve o Hospital Padre Albino, o Hospital Emílio Carlos e mais 14 instituições da região noroeste. “Nós começamos a capacitar os profissionais em 2011 num trabalho que envolve o conhecimento, o empenho e a dedicação de colegas destes hospitais cientes de como conversar com as famílias e, se aceita a doação, prontos para a captação dos órgãos”, ressalta Picollo.
“A comunicação em situações críticas e o processo para determinar morte encefálica são fundamentais para identificar uma pessoa que pode ser um doador de órgãos e conversar com o familiar de maneira adequada quando perdem um ente querido, para que tomem a melhor decisão pela doação, é importantíssimo. O Hospital de Base tem um caráter de centro formador para toda região de 102 municípios levando informações e capacitando esses profissionais para que aprendam a melhor maneira de abordar as famílias”, afirmou.
O evento teve como convidado palestrante o médico intensivista e coordenador estadual de transplantes de Santa Catarina, Joel de Andrade, que destacou a importância do trabalho educacional continuado. “A educação é a medida mais efetiva para que a gente aumente as doações e, por consequência, os transplantes. A educação destes profissionais de saúde permite que eles interajam com as famílias da melhor forma possível, com empatia, com laços necessários para que a solidariedade fique marcada e dali possa brotar bons frutos resultando na doação de órgãos. Nosso maior desafio atualmente são as mudanças de pessoas nessas posições de trabalho, por isso, a educação tem que ser constante. Portanto, consolidar essas iniciativas de capacitação e treinamentos produzem os melhores resultados. A mensagem que eu deixo é: se você é um doador de órgãos, avise sua família e se você tem um doador na família, respeite a vontade dele”, afirmou.
Durante o evento, aconteceu o Curso de Comunicação em Situações Críticas e de Determinação em Morte Encefálica (CDME), que forneceu aos participantes as habilidades técnicas, éticas e jurídicas necessárias para realizar o diagnóstico de morte encefálica, orientação sobre a melhor maneira de lidar com o luto e como conduzir a comunicação de más notícias, além do processo de solicitação de doação de órgãos, entre outros tópicos.
NÚMEROS
Atualmente, no Brasil, a taxa de autorização das famílias é 55% e na região de Rio Preto esse número é de 75%. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil é referência mundial em doação e transplantes de órgãos, garantido de forma integral e gratuita pelo SUS, responsável por financiar e fazer mais de 88% de todos os transplantes de órgãos do país.
O Brasil realizou mais de 6,7 mil transplantes entre janeiro e setembro de 2023. Esse foi o melhor resultado dos últimos 10 anos, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Em números absolutos, o Brasil é o 2º maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
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