Mais de 2,5 milhões de brasileiros foram afastados do trabalho por razões de saúde em 2023, segundo o Ministério da Previdência Social. A chamada hérnia de disco, que se refere ao transtorno do disco lombar, foi a principal causa, com 51.453 concessões de benefícios, seguida da dor na lombar, com 46.964.
Considerando as 10 principais causas de afastamento, que resultaram em 370 mil concessões pelo Ministério, a hérnia de disco responde por 13,8% do total. Já a dor na lombar, por 12,6%.
Sedentarismo e má postura são os dois fatores mais importantes associados às lesões na coluna, que levam a esses problemas, aponta o professor doutor Alceu Chueire, chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia do Hospital de Base de Rio Preto.
A lista das dez doenças mais recorrentes tem predominância de problemas osteoarticulares, que são os distúrbios articulares, ósseos-musculares, como leões no ombro, tendinites e lesão do punho, além de dores na lombar e diferentes hérnias.
“Essas disfunções têm como causa predisposição genética, mas também, em grande parte, a adoção de posições inadequadas no desempenho do trabalho, falta de ergonomia e exposição a cargas exageradas”, afirma Chueire, que é também professor livre docente da Famerp.
Ao contrário do que muitos pensam, a hérnia de disco atinge a população mais jovem, principalmente entre 20 e 40 anos, faixa etária em fase produtiva. Alceu Chueire falou com a reportagem sobre esse tipo de problema.
O Regional: O que é a hérnia de disco?
Dr. Alceu Chueire: O disco intervertebral tem no seu interior um núcleo gelatinoso (núcleo pulposo) e, por um mecanismo compressivo (pegar peso), ele sai e comprime a medula vertebral ou uma raiz nervosa. Com a idade ocorre um enfraquecimento do anel fibroso, que mantém o núcleo no interior do disco, ele se rompe e sai comprimindo a raiz nervosa. A hérnia de disco comprime uma ou mais raízes nervosas que originam o nervo ciático, causando a dor lombar com irradiação pelas nádegas, parte posterior da coxa, face lateral da perna e pé.
O Regional: Quais os tipos de hérnias de disco?
As hérnias de disco classificam-se de acordo com sua localização na coluna vertebral. Podem ser cervicais, torácicas e lombares. Devido à maior solicitação durante os movimentos, as hérnias mais comuns são as lombares e as cervicais. Hérnia de disco cervical - pode comprimir a medula ou a raiz nervosa, ocasionando dor cervical irradiada para o membro superior, chamada cervicobraquialgia. A compressão nervosa pode ser sensitiva ou motora. A primeira dói e altera a sensibilidade com queimação ou adormecimento. A motora dói e causa perda da força dos movimentos. Hérnia de disco lombar – comprime e inflama uma raiz nervosa, podendo ainda causar dores nas nádegas e nas pernas.
O Regional: Quais os sintomas das hérnias de disco?
O principal sintoma da hérnia de disco lombar é a dor intensa na parte da perna onde a raiz nervosa é afetada. Em compressões mais significativas pode haver perda de força nos músculos afetados e dores na região lombar e nas nádegas. No caso da hérnia de disco cervical, as dores normalmente são concentradas nas regiões do pescoço e da nuca. O paciente ainda pode ter dificuldade para movimentar pescoço e braços e experimentar fraqueza e formigamento nos braços, mãos e dedos.
O Regional: Quais as causas da hérnia de disco?
Em alguns casos, a predisposição genética pode ser a principal causa, porém, fatores ambientais também podem aumentar as chances de tê-la. Entre os fatores estão o sedentarismo, tabagismo, excesso de peso corporal e hábito de carregar muito peso sem preparo da coluna.
O Regional: Qual o tratamento da hérnia de disco?
Na maioria dos casos, ela é tratada por meio de fisioterapia e uso de medicamentos, como analgésicos, anti-inflamatórios, relaxantes musculares e remédios para dor neuropática. O tratamento pode envolver também a realização da endoscopia, procedimento minimamente invasivo, em que o médico realiza incisão de 1 centímetro, após anestesia local. Caso o paciente não melhore com medicamentos e fisioterapia, indica-se a cirurgia minimamente invasiva, na qual se remove o pedaço do disco que comprime e inflama a raiz nervosa. Em situações raríssimas, é necessária cirurgia mais complexa, com uso de parafusos ou outros implantes.
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