Gestores dos hospitais manifestam preocupação com novo piso da Enfermagem
Profissionais que encabeçam decisões na Fundação Padre Albino, Unimed e Mahatma Gandhi reconhecem problemas financeiros
Foto: COMUNICAÇÃO/FPA - Reginaldo Donizeti Lopes, da FPA, diz que novo piso causará desequilíbrio financeiro
Por Guilherme Gandini | 15 de agosto, 2022
 
 
 

Gestores das instituições de saúde de Catanduva consultados por O Regional manifestaram preocupação com a aplicação do novo piso salarial da Enfermagem, conforme lei sancionada este mês pelo presidente Jair Bolsonaro. Em discursos semelhantes, Fundação Padre Albino, Unimed Catanduva e Hospital Mahatma Gandhi reforçaram a importância em se valorizar os profissionais, mas criticaram a falta de estudos de impacto e de subsídio federal.  

“Todos os profissionais devem ser bem remunerados. Neste caso específico, dos profissionais da saúde, somos totalmente favoráveis. Foram guerreiros fundamentais durante a pandemia da Covid-19 e, juntamente com nossa equipe multiprofissional, responsáveis pelo atendimento de qualidade oferecido aos pacientes de Catanduva e dos 18 municípios da região e salvaram muitas vidas”, pontua Reginaldo Donizeti Lopes, presidente da Diretoria Executiva da FPA.  

Ele frisa que a Fundação Padre Albino, ao longo dos anos e dentro de suas possibilidades, sempre valorizou e ofereceu oportunidades de qualificação para seus profissionais. “No entanto, a aprovação do novo piso salarial da categoria no país, sem estudo do impacto econômico e sem indicação de fonte de recursos, nos assusta e preocupa, já que causará enorme desequilíbrio financeiro em muitos e até fechamento de hospitais.”  

Lopes argumenta que a medida não poderia ter sido tomada sem antes ouvir as entidades da saúde. “A Fundação Padre Albino tem hoje mais de 2.500 colaboradores, dos quais mais de 1.800 na área da saúde, que recebem seus salários religiosamente em dia, apesar das enormes dificuldades que uma entidade filantrópica passa, já que seus hospitais atendem mais de 70% pelo SUS e cuja tabela de vencimentos não é reajustada há mais de 15 anos”, pondera.  

O gestor afirma que, diante desse cenário, “a Fundação Padre Albino, assim como a grande maioria dos hospitais públicos e privados, terá dificuldades para o cumprimento da lei, apesar de ter consciência que os profissionais de enfermagem são merecedores desse benefício.”  

Presidente da Unimed Catanduva e do Hospital Unimed São Domingos, o oftalmologista José Renato Pizarro também confidenciou grande preocupação com o aspecto financeiro, apesar de reconhecer que “todos os profissionais da saúde devem ser melhor remunerados”.  

“Dentro das nossas possibilidades orçamentárias, sempre buscamos valorizar e qualificar nossos profissionais. Mas estou muito preocupado com a forma com que o piso salarial foi implementado no país. Não foram realizados estudos do impacto econômico que esta medida causará nos hospitais públicos e privados. Infelizmente, tal decisão acarretará um grande desequilíbrio financeiro em muitos hospitais”, afirmou Pizarro.  

O médico disse entender que a correção dos pisos poderia ter sido efetuada de forma progressiva e escalonada, o que, segundo ele, permitiria que as instituições se preparassem, sem colocar em risco a saúde do país.   

“Somos uma empresa que gera mais de 700 empregos, que paga em dia elevados impostos e que não recebe recursos públicos ou doações. O Hospital Unimed São Domingos terá grandes dificuldades para cumprir esta lei, assim como outros milhares de hospitais, que são esteios da nossa saúde”, projeta.  

 

Solução precisará ser buscada em conjunto com a Prefeitura  

Presidente do Hospital Mahatma Gandhi, o médico Luciano Lopes Pastor afirmou que, dentro do processo de tratamento humanizado abraçado pela instituição, a valorização profissional tem fundamental importância. “Sabemos do esforço e do merecimento de nossos colaboradores e sempre apoiaremos uma remuneração justa para uma equipe que faz do Hospital Mahatma Gandhi uma referência em tratamento de transtornos mentais e dependência química.”  

Ele pondera, no entanto, que o hospital tem área de abrangência de 102 municípios, sendo que 80% do atendimento é pelo SUS, “cuja tabela de vencimentos é extremamente defasada, não cobrindo o custo de cada paciente e cujas ações e obras de infraestrutura depende de trabalhosas e difíceis buscas de recursos junto aos órgãos públicos e ações junto à comunidade.”  

“Entendemos que, independente do merecimento dos profissionais, a medida de adoção do novo piso foi imposta sem nenhuma consulta, pesquisa ou avaliação junto aos hospitais e instituições de saúde e sem nos indicar um caminho para viabilização da mesma que, com certeza, afetará a já frágil saúde financeira de nossa instituição”, critica Pastor.  

Ele reforça que não houve sequer uma tentativa de fazer a correção dos pisos de forma progressiva e escalonada para que as instituições pudessem se programar e buscar alternativas de viabilidade. “Não fomos ouvidos”, lamenta o médico. “Foi uma decisão unilateral sem a menor preocupação com as consequências e com o impacto que deverá causar, o que poderá afetar até mesmo o número de profissionais empregados.”  

Pastor lembra, ainda, que o Hospital Mahatma Gandhi é uma gestão municipal e que a solução precisará ser buscada em conjunto com a Prefeitura. “Como a grande maioria dos hospitais públicos e privados, não temos estrutura financeira para arcar com o impacto provocado pelo novo piso salarial dos profissionais da Enfermagem. Esperamos que o governo federal se sensibilize e se conscientize do impacto que a decisão provocará nas instituições e busque uma viabilidade que atenda as necessidades de profissionais e de instituições de saúde.”  

A Prefeiura de Catanduva foi questionada pela reportagem sobre o impacto do novo piso para os cofres públicos, no que se refere aos servidores efetivos – que são em número reduzido, mas sobretudo quanto ao contrato de gestão com o Mahatma Gandhi. Não houve resposta para nenhuma das perguntas feitas, até o fechamento desta edição.  

 

Foto: MIDDIA MAGAZINE - José Renato Pizarro, da Unimed, afirma que hospitais terão dificuldades para cumprir lei

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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