Elas venceram o câncer, mudaram de vida e inspiram outras pessoas
Ana Carolina Fumagalli e Juliana Devitto Farias, em diferentes áreas de atuação, adotaram novos hábitos depois da cura
Foto: Arquivo Pessoal Com semelhanças e diferenças, histórias de Ana Carolina e Juliana mostram que a cura do câncer é possível
Por Guilherme Gandini | 30 de abril, 2023

Apesar dos avanços na Medicina, receber o diagnóstico de câncer é uma experiência marcante. É compreensível que os primeiros pensamentos não sejam os melhores, já que o medo costuma tomar conta desse momento em que a pessoa se depara com o inesperado e teme por sua vida.

Conforme o relato de muitos pacientes, entretanto, a forma como se enfrenta a doença é decisiva para o sucesso do tratamento. Uma delas é se lamentar, questionar o porquê, por que comigo?

A outra coincide com relato da nutricionista Ana Carolina Ferreira Fumagalli, que descobriu um linfoma de Hodgkin no mediastino em 2012. “Eu nunca fiquei com medo de morrer, nunca me entreguei, e acho que ter a cabeça boa é muito importante, acho que mais metade do tratamento é a gente ter uma boa aceitação. Eu me perguntava, na realidade, para que tudo isso estava acontecendo, para que eu precisei fazer por isso. Hoje, eu não tenho apenas uma resposta. Tenho várias”, relata.

Ela diz que sua visão sobre a vida mudou por completo. “Eu amadureci muito, aumentei minha fé, comecei a ter valores diferentes, coisas simples do dia a dia eu valorizo muito mais. Desde um bom dia até uma flor no jardim, coisas simples que acabam passando no automático. Assim como das pessoas que estão perto da gente.”

Ana Carolina formou-se em nutrição em 2010, mas já trabalhava em uma empresa da área e viajava todos os dias para Uchoa. Em 2012, aos 24 anos, surgiu uma tosse forte e o emagrecimento repentino, 12 quilos ao todo. Ela procurou por especialistas e descobriu uma massa considerável e um tumor agressivo em seu corpo, que pesava mais de 1 quilo.

“Quando eu recebi o diagnóstico, o chão se abriu. Foi bem complicado. Meu maior medo era o tratamento em si e se tivesse que fazer cirurgia”, confidencia a profissional de saúde. Na época com os cabelos longos, ela lembra em detalhes o momento em que o médico explicou que tudo cairia.

Foram oito ciclos de quimioterapia, mais 20 sessões de radioterapia. Ela relutou em raspar o cabelo, apesar das falhas visíveis. Quando decidiu, sua mãe a deixou na porta do salão, e queria acompanhar, mas foi impedida pela filha. “Ela conta que virou a esquina e desabou a chorar. Raspei a cabeça e foi um momento muito marcante.”

À noite, quando Eduardo chegou em sua casa, ela ficou impactada ao abrir a porta da sala, pois ele também estava careca. “Foi muito impactante, fiquei sem reação. Por que você fez isso? Perguntei. Ele disse: pra mostrar que cabelo não serve para nada, que isso é o menos importante”. Foi nessa mesma data que ele a pediu em casamento e eles até marcaram a data.

“O dia que eu raspei a cabeça foi marcado por essa data muito importante pra gente. Esse foi um dos motivos que me fizeram querer terminar mais rápido o tratamento, pois eu tinha muita vontade de viver, isso acabou me ligando na tomada, me incentivou a estar bem”, reconhece.

Ela diz que sua provação também serviu para preparar a família para a descoberta de um câncer no seu sogro Carlão. “Ele foi um companheirão, íamos juntos a Rio Preto fazer a radioterapia e isso intensificou o nosso relacionamento, hoje eu tenho a família do meu marido como a minha, tanto em respeito, amor, em tudo. Sou como filha para eles e eles como pais para mim.”

Outra passagem do tratamento lembrada por Ana Carolina é a passagem do missionário Roberto Tannus por Catanduva, na Paróquia Imaculada Conceição. Ele chamou as pessoas que estavam fazendo tratamento oncológico para subirem no altar e segurou-a ao final, antes que ela retornasse ao seu lugar.

“Ele colocou a mão nas minhas costas e disse que eu estava sendo curada naquele momento. Eu senti esquentar e esfriar onde estava localizado o tumor e tenho certeza de que eu fui curada naquele momento. Senti muito forte a presença do Espírito Santo.”

VIDA NOVA

Ana Carolina considera que o principal motivo que ela foi designada a vivenciar tal experiência foi para que houvesse uma guinada profissional. Depois de estar curada, decidiu estudar a fundo a alimentação para pacientes com câncer e se especializou na área de nutrição em oncologia.

“Hoje eu consigo ajudar as pessoas. Por já ter passado por isso, quando o paciente fala que tem dificuldade em se alimentar, em ingerir água, eu entendo, então busco estratégias para ajudar o paciente a fazer o manejo dos sintomas, a diminuição dos efeitos colaterais de cada tratamento. Busquei isso nos estudos para recuperar o estado nutricional do paciente e dar esse suporte.”

Ela considera que quando a pessoa vê outra que passou pelo problema, enxerga uma luz no fim do túnel. “As coisas boas da vida passam, mas as ruins também passam”, garante ela, que venceu o câncer. “Eu escolhi fazer nutrição, mas a especialização em oncologia me escolheu e hoje eu amo cuidar dos meus pacientes.”

Juliana Farias mudou de vida e doou o sino da esperança

A empresária Juliana Devitto Farias estava com 39 anos quando descobriu um câncer de mama, em 2017. “Receber esse diagnóstico muda tudo, a vida vira do avesso, suspendendo meus hábitos diários por uma dolorosa e assustadora rotina de tratamento. Mesmo difícil, sempre contei com a presença marcante da minha família e dos meus colegas de trabalho.”

Ela lembra que, quando recebeu o diagnóstico, sozinha em frente ao médico, sentiu o chão desabar. “Acabei fazendo uma mastectomia total da mama esquerda e fiz um tratamento oncológico com 18 sessões de quimioterapia”, relata.

A difícil experiência de perder o cabelo também marcou sua caminhada. “Fiquei careca e foi muito difícil porque o cabelo é a moldura da mulher, nossa vaidade. Eu não quis usar peruca, mas usava lenços e eles me deixaram muito bem, então consegui levar muito bem o tratamento.”

Juliana conta que teve medo de morrer. “Quando a gente recebe um diagnóstico de câncer a gente acha que vai morrer, é a primeira coisa que vem à nossa cabeça e isso permanece durante todo o tratamento, a gente só acredita que não vai morrer quando a gente fala – está terminando e eu estou cada vez melhor.”

Durante o tratamento, ela diz que passou a dar valores para coisas diferentes do que dava antes.

“A valorização da vida foi se transformando em uma coisa maravilhosa, uma preciosidade imensa. E eu sempre agradeci porque eu tive essa oportunidade de viver novamente”, celebra, após superar seis meses de quimioterapia e cinco anos de medicação.

Curada, mãe de dois filhos e casada, Juliana Farias tornou-se amante do esporte no caminho da recuperação. Optou, literalmente, por mudar de vida, dedicando-se ao ciclismo, beach tênis, corrida e à musculação.

“Me apaixonei! A satisfação em ter uma vida mais saudável, cuidando mais de mim, depois de todo meu sofrimento faz com que eu não desista de nada. Estou curada, mais sábia, mais forte. Com 45 anos uma mulher com uma valorização imensa pela vida e uma gratidão eterna no coração. Estou pronta para novos desafios.”

SINO

A frase que fica bem ao lado do sino do setor de radioterapia do Hospital de Câncer de Catanduva, o HCC, leva a assinatura de Juliana. Ela doou o próprio sino.

“Eu sei o quanto é importante tocar o sino quanto a gente termina o tratamento. Eu bati o sino quando acabei minha quimioterapia, foi emocionante porque a gente escuta as badaladas da vida continua, do vencer, da gratidão.”

Ela passou a integrar o grupo Voluntários do Bem, ainda durante o tratamento, e ajudou o hospital a concluir a radioterapia.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.

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