Ansiedade infantil requer acolhimento profissional, familiar e escolar
Problema, que se caracteriza pelo sentimento de urgência e preocupação extremas, pode ocorrer em pessoas de qualquer idade
Foto: DIVULGAÇÃO - Criança ou adolescente deve receber tratamento adequado para minimizar os sintomas emocionais
Por Da Reportagem Local | 02 de novembro, 2022

Entre os quadros psiquiátricos mais comuns na atualidade e agravados pela pandemia, os transtornos de ansiedade afetam uma em cada quatro crianças e adolescentes brasileiras. Queda no rendimento escolar, dores constantes de cabeça, isolamento, oscilações bruscas de humor, distúrbios do sono e alterações no apetite estão entre os principais sinais do transtorno de ansiedade em crianças. O problema, que se caracteriza pelo sentimento de urgência e preocupação extremas, pode ocorrer em pessoas de qualquer idade, porém entre crianças há a necessidade de uma atenção especial.

“Crianças que sofrem com ansiedade, sobretudo em níveis mais críticos, podem ter sua rotina comprometida de forma severa, afetando seu desenvolvimento como um todo e impactando sua perspectiva de futuro”, alerta a psiquiatra Aline Sabino, que atua na Rede de Hospitais São Camilo de SP. Além disso, a especialista destaca que a ansiedade na infância é um importante fator de risco para o desenvolvimento de outros transtornos na vida adulta.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ansiedade afeta até 3% da população com até 17 anos, o equivalente a 8 milhões de crianças e adolescentes. No Brasil, uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em 2020, revelou que depressão e ansiedade estão presentes em um a cada quatro brasileiros desta faixa etária. Dra. Aline reforça que a identificação dos sinais e a observação constante são fundamentais para que a criança receba o acompanhamento adequado. “A criança não consegue expressar muito bem o que está sentindo, então é importante que todo o seu círculo social, escolar e familiar saiba olhar para esta criança a fim de perceber que algo mudou e, também, que saiba como buscar ajuda”, reitera.

Nesse aspecto, a médica reforça a importância de conscientizar a população em geral sobre este problema que se tornou ainda mais frequente após o longo período de isolamento imposto pela pandemia de Covid-19.

“Os pais, os professores da escola, do curso de inglês, o treinador da escolinha de futebol, os tios e avós, enfim, todos nós, precisamos priorizar o acolhimento e oferecer apoio e uma escuta ativa a fim de nos envolver nesta causa e ajudar a combater a crise de saúde mental que vivemos atualmente”, ressalta.

COMO PERCEBER OS SINAIS

A psiquiatra explica que o transtorno pode se apresentar de formas distintas, em alguns casos complementares, como Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno de Ansiedade de Separação, Fobias sociais, Fobias específicas, Transtorno de Pânico ou Transtorno de Estresse Pós-Traumático. O diagnóstico correto, portanto, dependerá da avaliação clínica e do histórico de cada criança.

Ela salienta que as manifestações podem variar dentro dos padrões de sinais comuns citados anteriormente e de acordo com a idade. “Por isso, qualquer pessoa que conviva com uma criança ou adolescente poderá observar mudanças em seu comportamento habitual.” Confira alguns dos sinais:

- Picos de irritação extrema com coisas simples, como uma roupa que não serviu bem ou um evento que foi cancelado;

- Crises de choro inesperadas, não relacionadas a eventos que habitualmente provocam esta reação;

- Apatia, falta de interesse repentino em atividades que antes gostava muito;

- Medo excessivo ou recusa para ir à escola ou a atividades extracurriculares que frequenta regularmente;

- Medo intenso de ficar longe dos pais ou cuidadores, mesmo que por um breve momento. Aline esclarece que, de acordo com cada idade, é natural a criança apresentar reações de frustração, medo, tristeza ou angústia. No entanto, quando esses episódios forem desproporcionais em relação às situações vivenciadas e, principalmente, quando virem acompanhados de sofrimento intenso, é crucial procurar ajuda especializada.

Como exemplo, a médica do Hospital São Camilo SP cita observações frequentes que recebe em seu consultório, vindas de pais e cuidadores de crianças de diferentes idades.

“Reações como querer ir embora da escola antes do final da aula, um choro de arrependimento após uma crise exagerada, um medo intenso de apresentar trabalho em grupo, o autoisolamento e sintomas físicos como dor de cabeça, diarreia e perda de apetite por um longo período sem uma causa aparente, além de pânico diante de uma situação que antes era rotineira, estão cada vez mais frequentes e devem ser sinalizadas servir como sinais de alerta.” Quando diagnosticada, a criança ou adolescente poderá receber o tratamento adequado que, além de minimizar os sintomas emocionais, também poderá favorecer seu desenvolvimento e, até mesmo, construir uma melhor relação com sua saúde mental e física.

“O tratamento pode ser medicamentoso, quando há a necessidade, mas sempre deve incluir o acompanhamento psicológico, que ajudará a criança a adquirir os recursos que necessita para lidar com a ansiedade e identificar gatilhos. A escola também tem um papel fundamental neste processo auxiliando a criança ou adolescente a se sentir compreendido e protegido para enfrentar esta fase”, finaliza.

Além disso, prática de esportes, acompanhamento nutricional e realização de atividades de lazer podem contribuir para a ampliação do bem-estar, fator essencial no controle de crises de ansiedade.

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Da Reportagem Local
Redação de O Regional

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