Falar sobre emoções é fundamental, porém, um hábito ainda difícil para a maioria das pessoas. Será que essa tristeza é passageira? Essa falta de vontade de trabalhar, estudar, sair de casa, é normal? Isso é algo que precisa ser debatido em qualquer época do ano, porém, ganha destaque no Setembro Amarelo, mês escolhido para chamar a atenção sobre a saúde mental e a prevenção ao suicídio.
As taxas de suicídio no Brasil são mais altas entre os homens, pois eles tendem a usar meios mais letais, mas são as mulheres que tentam mais vezes, segundo as estatísticas.
De acordo com pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média, 30 pessoas cometem suicídio por dia. Estudos indicam que quase 97% dos casos estão relacionados a transtornos mentais como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos de personalidade e abuso de álcool ou drogas.
Também há outros problemas e condições que aumentam o risco de alguém pensar em morrer, como discriminação, bullying, sofrimento no trabalho, perda de emprego, conflitos familiares, perda de alguém querido, doenças crônicas dolorosas ou incapacitantes.
A OMS e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) vão além e apontam que 15% dos trabalhadores adultos vivem com transtorno mental. As entidades afirmam que durante décadas a saúde mental tem sido uma das áreas mais negligenciadas da saúde pública no mundo e destacam que nos governos, locais de trabalho e comunidades, o tema é mal compreendido, recebe poucos recursos e tem baixa prioridade em comparação com a saúde física.
Além disso, o estigma generalizado cria barreiras. Assim, procurar por ajuda se torna um impedimento para o sucesso na carreira, destaque na sociedade e felicidade na família.
De acordo com a psicóloga Ivete Marques de Oliveira, presidente da Associação para a Valorização da Vida de Catanduva (Aviva) e coordenadora do posto do Centro de Valorização da Vida (CVV), mesmo inserida em um ambiente repleto de pessoas, a vítima se sente incompreendida, desesperada, desamparada. As pessoas que pensam em suicídio podem dar alguns sinais e é importante observar.
“Os sinais de alerta para o suicídio são os transtornos mentais. Principalmente quando a pessoa tem depressão, começa a falar em suicídio, começa a desfazer das suas posses, inclusive objetos de valor afetivo. Apresentam a falta de planos para o futuro, só falam do passado, procuram pessoas importantes para se despedir, escrevem cartas de despedida, pagam dívidas para evitar que a família tenha problemas. Mas às vezes os sinais são imperceptíveis e depois que o suicídio acontece, tudo se torna um sinal e a família culpa-se desnecessariamente. Deve-se observar, seja um colega de trabalho, um colega de classe, um amigo, quando ele passa a se isolar, a perder o interesse nas atividades de costume e encaminhar para um tratamento, além de informar sobre o CVV”, explica Ivete.
Em Catanduva, 37 voluntários trabalham no posto de atendimento do CVV, que fica no Box 4 do Terminal Rodoviário João Caparroz. Para isso, participam de um programa de treinamento para aprenderem a fazer os atendimentos. Durante 12 semanas, aprendem como realizar a escuta ativa, com acolhimento de forma respeitosa, amorosa, compreensiva, sem críticas ou julgamentos.
“Os voluntários do CVV atendem 3 milhões de ligações por ano. Os atendimentos são sigilosos. Pessoas de todas as classes sociais e faixas etárias, inclusive crianças, ligam no CVV. A amizade e o calor humano são o grande antídoto contra esse mal. A dor não tem hora, por isso o CVV atende 24 horas por dia através do telefone 188. A ligação é gratuita”, reforça a psicóloga.
Para ser voluntário, é preciso ter idade mínima de 18 anos, boa vontade para ajudar seus semelhantes e buscar informações no site https://www.cvv.org.br/. O CVV é uma organização da sociedade civil de caráter filantrópico fundada em 1962. O atendimento pode ser feito pelo telefone 188 ou presencialmente, com agendamento pelo (17) 99176-5081. Este mês, as unidades de saúde de Catanduva também desenvolvem ações para conscientizar sobre a prevenção e oferecer apoio a quem precisa.
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