Poeta Marina Grandolpho aborda condição feminina e suas dores
Em “Maquinário feminino e outras conversas”, a autora catanduvense explora o poder dialógico de um eu-lírico feminino
Foto: Gabriela Luz - Marina Grandolpho nasceu em Catanduva e atualmente vive em Campinas
Por Da Reportagem Local | 25 de maio, 2023

O livro de estreia da professora e escritora catanduvense Marina Grandolpho, “Maquinário feminino e outras conversas” aborda, em 46 poemas, vivências tipicamente femininas a partir de um olhar afiado, sensível e crítico que parte da experiência da autora como mãe e feminista. Publicada pela Editora Patuá, a obra tem orelha assinada pela escritora capixaba Carla Guerson.

“Maquinário feminino e outras conversas” trata da condição da mulher e de mães em nossa sociedade: violadas e sobrecarregadas, apesar de tantos avanços; dos encontros e desencontros nos relacionamentos interpessoais; dos silêncios e silenciamentos que tanto comunicam; fora questões cotidianas tão atreladas à existência e os processos (de cura e de escrita, e às vezes de cura pela escrita) na vida de indivíduos.

“Os temas que trago no livro perpassam a minha existência, a existência da minha filha, a existência de tantas outras mulheres, mas ao mesmo tempo dizem respeito a todo mundo; além disso, a dor é um eixo condutor entre as temáticas – e não seria a dor uma condição humana, com a qual todos se identificam? Talvez tenha sido essa a maior motivação: dialogar com as pessoas por meio da sensibilidade que as dores nos causam”, justifica a autora.

Alguns poemas foram rascunhados pela primeira vez ainda em 2008, muito antes de Marina ter o desejo de fazer sua escrita literária publicada. “A necessidade de escrever sobre coisas que estavam incontidas desde sempre urgia para mim, o livrar-se de todas essas coisas (sentimentos e sensações), o lidar com a dor, o extravasar. Talvez por isso tenha sido um longo processo”, relata.

Para Carla Guerson, a escrita de Marina denota essa urgência. “Não a urgência de quem esteve no fundo do poço, mas a de quem ainda está ali. De quem de vez em quando emerge para anunciar: eu estou aqui. Para respirar, para exigir, para denunciar”, frisa, ressaltando o poder de reflexão e identificação da poética construída pela poeta ao longo do livro.

O silêncio e seus efeitos e causas formam a espinha dorsal da obra ao transformar a palavra em um ato existencial e essencial para esse eu-lírico marcadamente feminino, logo humano. “O livro que você tem em mãos brota do desalento. E se um dia você já esteve nesse lugar (e talvez estejamos todos), vai ser impossível não se identificar”, aponta Carla.

Apesar do título fazer um aceno especial às mulheres, todas as pessoas são bem-vindas à conversa poética estabelecida pela autora, na qual encontrar-se-ão com angústias, silenciamentos e crises existenciais — perpassando temas como maternidade, violências de gênero, amor desencontrado, abandono, vazio, falta de inspiração.

E, ao mesmo tempo, os leitores poderão deparar-se com o alento de (re)encontros bem-sucedidos ou com a sensação de livramento que vêm das decisões acertadas.

“Escrevo todo dia: anoto coisas que me acontecem e/ou me chamam a atenção, sonho, lembranças/ideias que me vêm à cabeça. E, então, quando há tranquilidade, paro e organizo essas anotações. Muitas delas se transformam em textos, que vão sendo mexidos e remexidos ao longo do processo de produzir algo”, relata Marina, que já tem o original do seu segundo livro, também de poesia, fechado. Além disso, tem se dedicado, nas frestas de um dia a dia atribulado, a dois projetos em prosa: um de contos e outro de novela.

QUEM É

Marina Grandolpho nasceu em 1987, em Catanduva, e atualmente vive em Campinas. Formada em Letras pela UFSCar e doutora em Estudos Literários pela Unesp, é professora da educação básica pública, pesquisadora e escritora. Também é mãe e feminista, e foram esses dois últimos papéis que a provocaram em definitivo no sentido de compartilhar a sua escrita.

Possui textos publicados em portais literários, na revista Ruído Manifesto e na zine autoral Por debaixo da carne sou palavra; além disso, criou uma newsletter, publicada quinzenalmente. Suas principais referências literárias são nomes clássicos da literatura do século XX.

Autor

Da Reportagem Local
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