Novembro Branco: médico fala sobre a relação entre fumo e câncer
90% dos casos de câncer de pulmão possuem como origem o tabagismo; diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento
Foto: Divulgação - Renato Macchione diz que tabaco eleva riscos de câncer em todos os órgãos
Por Da Reportagem Local | 19 de novembro, 2023

O chamado Novembro Branco é dedicado à conscientização do câncer de pulmão, doença que, segundo as estimativas, tem origem no tabagismo em 90% dos casos. Isso porque os fumantes possuem risco extremamente maior de desenvolverem tumores pulmonares, fazendo com que o alerta seja visto com ainda mais sensibilidade para este grupo em especial.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de os dados não serem novidades, os tumores pulmonares ainda lideram o ranking de doenças oncológicas com maior número de óbitos todos os anos. Além disso, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), estima-se que o Brasil terá 32.560 casos de câncer de traqueia, brônquios e pulmão para cada ano do triênio 2023-2025, sendo em média 14.540 casos entre mulheres e 18.020 em homens.

Um dado alarmante, também apresentado pelo Inca, indica que aproximadamente 9,5% da população, quase uma em cada 10 pessoas, são fumantes. Por isso, mesmo o Brasil sendo reconhecido mundialmente por suas campanhas de combate ao fumo, o desafio ainda é grande.

Nas fases iniciais da doença, onde a chance de cura é maior, o problema é, infelizmente, silencioso, não apresentando sintomas. Já nas fases em que o câncer está mais avançado, o paciente pode apresentar sinais no aparelho respiratório, como tosse, dor no peito e falta de ar.

Ao jornal O Regional, o médico pneumologista Renato Eugênio Macchione respondeu uma série de perguntas sobre a relação entre tabagismo e o câncer. Ele alertou que o cigarro tem mais de mil substâncias químicas misturadas, que são os principais desencadeantes da doença. O especialista falou, ainda, sobre a ideia aparentemente utópica do Tabaco Zero.

O Regional: Quais são os principais tipos de câncer de pulmão?

Renato Macchione: São o adenocarcinoma e o carcinomipidermoide, relacionados ao tabaco, tanto em homens quanto mulheres. Existe um outro tipo de tumor menos frequente, mas muito mais agressivo, que é o carcinoma indiferenciado de pequenas células, que tem mortalidade muito alta, ao redor de seis meses, em um período de até um ano.

O Regional: Como é o tratamento para câncer de pulmão?

O carcinoma de pulmão tem adquirido novos tratamentos. O mais antigo e talvez o que traga maior benefício seria a cirurgia com a ressecção do tumor. Isso é possível nos diagnósticos mais precoces, quando o tumor não estiver muito avançado. Os outros tipos de tratamento podem ser isolados ou associados, como a radioterapia, a quimioterapia e agora a imunoterapia. Gradativamente, esses tipos de abordagem já têm sido mais específicos de acordo com o tipo histológico do tumor, de acordo com a causa mais específica.

O Regional: O tabagismo aumenta o risco de outros tipos de câncer?

O tabaco, além do câncer de pulmão, é o principal causador de outros tipos, em outros órgãos. No Brasil nós temos alto índice de câncer de garganta, com associação tabaco e álcool, além do câncer de bexiga e câncer de estômago. Nós não sabemos se os outros tipos de câncer também estejam relacionados ao hábito do tabaco, mas para quem tem predisposição talvez genética, ele aumenta em praticamente todos os tipos, em todos os órgãos.

O Regional: Quais são os principais elementos cancerígenos dos cigarros?

Tanto o cigarro convencional quanto o paiero e outras formas de tabaco, de forma inalada ou mascada ou inalada, trazem riscos de câncer de pulmão e outras doenças. Agora os mais jovens com cigarro eletrônico e também o narguile são as principais formas tabaco relacionadas e o que causa são principalmente os produtos químicos que o cigarro contém, entre eles fenóis, crezóis, que são altamente cancerígenos. O cigarro tem mais de mil substâncias químicas misturadas e eles são os principais desencadeantes de câncer e doenças cardiovasculares. A nicotina atua no sistema nervoso central provocando a dependência química.

O Regional: Depois de quanto tempo sem fumar há a diminuição do risco de câncer?

Pelo menos 5 anos seria um período razoável, de 5 a 10 anos para ser considerada uma faixa de exclusão que o paciente deixa de fumar como uma forma mais segura em relação ao câncer de pulmão. Em relação à nicotina, o principal causador de dependência química, de duas a três semanas aquela fissura, necessidade de fumar, é praticamente reduzida a níveis bem baixos.

O Regional: Que impacto haveria nos diagnósticos de câncer se todos os fumantes do mundo conseguissem se livrar do vício agora?

Alguns países já estão procurando essa meta, principalmente do norte da Europa, de Tabaco Zero, até o ano 2025, 2030. Reduziríamos a mortalidade, em torno de 6 milhões de mortes por ano. O número de enfisema de pacientes que agonizam hoje com oxigênio e uma série de medicamentos para diminuir a falta de ar, a redução do número de doenças cardiovasculares, infartos, AVC. Acredito que, além da redução e a melhora na qualidade de vida das pessoas, o Tabaco Zero propiciaria economia paro Brasil e o mundo. Acho que sobraria muito dinheiro do PIB de cada país se não tivéssemos essa indústria do tabaco tão forte. E principalmente para as pessoas menos esclarecidas, que a mortalidade, o adoecimento é maior principalmente para as pessoas e trabalhadores de baixa renda. Então essa desigualdade social que nós temos tanto do ponto de vista financeiro e também de saúde, seria uma primeira tentativa de ter uma igualdade na área da saúde. Seria uma conquista maravilhosa para o mundo, um objetivo a ser alcançado.

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Da Reportagem Local
Redação de O Regional

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