"Não foi diagnosticado nenhum caso no Brasil, mas pode acontecer em breve"
Infectologista Ricardo Santaella Rosa fala sobre a varíola dos macacos; são mais de 400 casos em 21 países
Foto: DIVULGAÇÃO - Infectologista Ricardo Santaella explica sintomas e formas de prevenção da doença
Por Myllayne Lima | 29 de maio, 2022
 

São mais de 400 casos confirmados da varíola dos macacos em 21 países, segundo dados do Global.health Monkeypox, que monitora os números divulgados em cada nação. A doença acendeu um alerta em todo o mundo e tem despertado dúvidas na população. 

“A varíola dos macacos é uma doença viral causada por um vírus chamado monkeypox. Esse vírus pertence a uma família de vírus chamada poxvírus, que infecta animais e seres humanos”, destaca o infectologista Ricardo Santaella Rosa.  

O médico explica que a varíola humana está entre as doenças que mais mataram. “O poxvírus mais conhecido é o da varíola humana que, juntamente com a tuberculose, está entre as doenças que mais mataram em toda a história. A varíola humana, que era causada pelo vírus smallpox, provocava doença grave caracterizada por várias lesões em forma de vesículas (bolhas pequenas) que se disseminavam por todo o corpo, na pele e nos órgãos internos, com alta capacidade de transmissão (por vias aéreas e contato) e alta taxa de mortalidade.” 

Santaella frisa que a doença foi erradicada após campanhas de vacinação. “A varíola humana deixou de existir durante a década de 1970, depois de campanhas de vacinação bem sucedidas.” 

A varíola dos macacos ocorre por meio de contato entre seres humanos e animais infectados. “O monkeypox causa doença semelhante em macacos, principalmente residentes em algumas regiões da África. Eventualmente pode provocar doença em seres humanos quando em contato com macacos doentes ou em contato com outros seres humanos infectados.” 

O especialista pontua os sintomas. “Os mais comuns são febre, dores pelo corpo, cansaço, calafrios. Depois de poucos dias aparecem as lesões vesiculares (bolhas pequenas) por todo o corpo e, caracteristicamente, nas regiões genitais. Em poucos dias essas vesículas sofrem sucessivas modificações se transformando em crostas (semelhante a “cascas de feridas”) e caem. Nesse ponto a pessoa deixa de transmitir o vírus. São sintomas semelhantes aos da varíola humana, porém de menor gravidade.” 

O contágio é semelhante à gripe e ao coronavírus. “A transmissão do vírus se dá pelo macaco ou pela pessoa doente através de secreção das vias aéreas (tosse, espirro, respiração, etc.) semelhante à gripe ou covid. E também por contato com as vesículas do animal ou da pessoa doente. Alguns casos aparentemente foram transmitidos após contato sexual. Provavelmente por contato próximo com lesões e/ou troca de secreções respiratórias.” 

Casos no Brasil poderão surgir em breve, alerta Santaella. “O primeiro caso de varíola do macaco em humano foi diagnosticado no Reino Unido em 7 de maio. Desde então e até dia 23 de maio já foram notificados 401 casos em 21 países, principalmente na Europa e mais recentemente nos Estados Unidos e Canadá. Aqui perto, foi confirmado o primeiro caso na Argentina. Até então, não foi diagnosticado nenhum caso em território brasileiro, mas os especialistas acreditam que isso pode acontecer em breve.” 

TRATAMENTO 

Não há tratamento para a varíola dos macacos. “Como a maioria das doenças virais, não existe tratamento específico. Como essa doença já ocorreu no passado em número pequeno de casos em vários países, alguns estudos foram realizados para se encontrar um medicamento antiviral adequado. Até o momento, tais medicamentos estão em fase de testes. De modo geral, o tratamento se baseia em cuidar dos sintomas, hidratação e evitar a transmissão.” 

Com a erradicação da doença no passado, a vacina não está mais disponível para população. “A vacina contra a varíola humana foi fundamental para que houvesse a erradicação do vírus nos seres humanos. Desde 1977 não ocorre nenhum caso de varíola humana em todo o mundo. Estudos recentes mostram que essa vacina poderia dar uma proteção de até 85% contra a varíola dos macacos, porém ela não está mais disponível para a população em geral, no mundo todo. Aqui no Brasil, desde 1971 a vacina não foi mais utilizada.” 

Santaella esclarece que, apesar dos novos casos, a doença não representa risco grave. “É preciso deixar claro que, apesar do aumento no número de casos em diversos países, ela não representa risco grave para a população como um todo. Pelo menos até o momento.” 

Ele fala, ainda, sobre prevenção. “Enquanto não houver uma vacina disponível, se é que será necessário, os cuidados são os que já estamos acostumados desde que começou a pandemia de Covid-19: evitar contato com gotículas respiratórias de pessoas infectadas, com uso de máscara, distanciamento, etc.” 

Ministério da Saúde inicia monitoramento 

O Ministério da Saúde estabeleceu no dia 23 de maio uma Sala de Situação para monitorar o cenário da varíola dos macacos no Brasil. A medida tem como objetivo elaborar um plano de ação para o rastreamento de casos suspeitos e na definição do diagnóstico clínico e laboratorial para a doença. Até o momento, não há notificação de casos suspeitos da doença no país. A pasta encaminhou aos estados o Comunicado de Risco sobre a patologia, com orientações aos profissionais de saúde e informações disponíveis até o momento.  

Em paralelo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou nota no dia 24 de maio com recomendações para retardar a entrada do vírus da varíola dos macacos no Brasil. Segundo o órgão, foram reforçadas medidas que já estão em vigência em aeroportos e em aeronaves para proteger o indivíduo e a coletividade contra a covid-19 e outras doenças.” 

Autor

Myllayne Lima
Repórter de O Regional.

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