É importante que o diagnóstico e tratamento envolvam médicos de várias especialidades como cardiologista, pneumologista e endocrinologista
Por acometer muitos adultos e, sobretudo, idosos, a hipertensão arterial é considerada, sobretudo, uma doença que atinge somente estas faixas etárias. Entretanto, a “pressão alta”, como é popularmente conhecida, atinge 17% das crianças e jovens no Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E o que é mais preocupante: é uma doença silenciosa, o que exige atenção redobrada dos responsáveis, sobretudo se há histórico desta condição na família.
“Crianças devem ter a pressão arterial medida já a partir dos 3 anos, durante a consulta ao médico para que possa diagnosticar a hipertensão. Este exame inicial é de extrema importância, sobretudo porque a doença costuma ser silenciosa também nas crianças, porém, como vimos, tem diagnóstico fácil”, afirma o cardiologista Antônio Hélio Pozetti, do Instituto de Moléstias Cardiovasculares - IMC, de São José do Rio Preto.
A pressão alta em crianças e adolescentes pode ser primária, quando está associada a hábitos de vida, alimentação e sobrepeso, ou secundária, quando advém de outros problemas de saúde, normalmente cardíacos, renais ou endócrinos. É importante, portanto, que o diagnóstico e tratamento envolvam médicos de várias especialidades como cardiologista, pneumologista e endocrinologista e seja realizado em instituição que concentre todos os exames necessários.
A hipertensão arterial secundária, frequente também entre as pessoas com mais de 60 anos, pode ter inúmeras causas, como a doença renal crônica, obesidade, apneia do sono, distúrbios do metabolismo (hipotireoidismo, hipertireoidismo, Síndrome de Cushing), feocromocitoma (tumor benigno que surge nas glândulas adrenais), acromegalia (produção excessiva do hormônio do crescimento) e a coarctação da aorta (estreitamento deste grande vaso sanguíneo que leva o sangue do coração para o corpo).
“São, portanto, vários problemas que atingem o corpo humano que podem causar a hipertensão. Por isso, existem vários sintomas que indicam a possibilidade de a pessoa, inclusive criança e jovem, ser hipertensa”, afirma o cardiologista, relacionando os sintomas: ronco, fadiga crônica, sopro abdominal, ganho de peso excessivo em poucos meses, dor de cabeça (cefaleia) e tremores.
Pozetti faz questão de informar que a avaliação de uma criança ou jovem suspeita de ser hipertensa é bastante criteriosa. “No IMC, verificamos a existência de um ou mais sintomas característicos da hipertensão, aferimos a pressão sanguínea nos dois braços, palpamos os pulsos, inclusive nos membros inferiores, verificamos se há estrias, características da Síndrome de Cushing, e se há sopro abdominal, indicativo de possibilidade de doença renal”, detalha.
Daí a importância de se dispor de equipe multidisciplinar. Diante do relato do paciente de ronco ou fadiga ou do diagnóstico de dispneia, por exemplo, o pneumologista pode encaminhá-lo ao cardiologista, que irá examiná-lo a fim de confirmar se ele é hipertenso. O mesmo ocorre com o endocrinologista ao atender paciente obeso e que apresenta sintomas indicativos de hipertensão.
Ao tratar da pressão alta, o corpo clínico do IMC atua também sobre a causa. Se é a apneia do sono, recomendam uso do bipap e perder peso. O sopro na barriga revela possibilidade de o paciente ter doença renovascular, cuja solução é a colocação de stent na artéria renal, realizado pela equipe especializada da hemodinâmica. Stent ou cirurgia são os tratamentos prescritos para quem tem coagtação na aorta. Para as pessoas com hipo ou hipertireoidismo, medicações.
“Enfim, para tratar a hipertensão, temos normalmente que atuar sobre a causa, e o tratamento envolve médicos e procedimentos de várias especialidades”, ressalta Pozetti.
É certo que a hipertensão é uma doença característica de idade avançada, contudo, o cardiologista do IMC reforça que, já a partir da infância, as pessoas precisam realizar o checkup cardiológico periódico, ao menos uma vez por ano. No IMC, o checkup envolve o cardiologista e a equipe multidisciplinar que realizam uma série de exames diagnósticos e físicos, como o eletrocardiograma e o teste ergométrico de esforço, por exemplo.
A prevenção, não importa a idade, envolve também a adoção de hábitos saudáveis como praticar exercícios físicos regularmente, evitar excesso de sal na alimentação, combater a obesidade e ter atividade de lazer, entre outros, orienta o cardiologista.
Caso a criança, o adulto ou o idoso sinta algum sintoma, como arritmia ou princípio de infarto, é fundamental que procure ou seja levado, de preferência, a uma emergência cardiológica.
A DOENÇA
O Ministério da Saúde estima que existam no país mais de 30 milhões de hipertensos, dos quais apenas 10% fazem o controle adequado. Além de ser considerada a doença de maior prevalência na população brasileira, é a principal causa de morte no Brasil e no mundo. O Dia Mundial da Hipertensão Arterial, voltado à conscientização sobre o tema, foi celebrado ontem, 17 de maio.
A hipertensão faz com que o coração tenha que exercer um esforço maior do que o normal e acaba comprometendo o funcionamento de outros órgãos. Diversos fatores contribuem para a elevação da pressão arterial, dentre eles, obesidade, sedentarismo, estresse, herança familiar e consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Considera-se ideal a pressão igual ou menor 135 x 85mm Hg, mas pode variar dependendo da faixa etária. Porém, cardiologistas advertem que variações destes números são aceitos. Por exemplo, com o avanço da idade é normal que a pressão mude, sem comprometer a saúde. Porém, só um médico está habilitado a dizer se a variação é aceitável.
Hipertensão não tem cura, mas pode ser bem controlada
Guilherme Gandini
A médica cardiologista Fábia Carla Guidotti Menegoli reforça que, apesar do diagnóstico da doença hipertensiva ser muito fácil de ser feito, ela não tem tratamento definitivo. “Por isso, é muito importante que os pacientes que fazem uso da medicação continuem fazendo uso regular desses remédios e façam consultas regulares aos seus médicos cardiologistas”, salienta.
Além do uso da medicação, diz ela, a prática de atividade física, alimentação saudável, diminuição do consumo de sódio e sal são medidas importantes para o controle da pressão arterial e para que o paciente possa ter uma vida saudável e plena.
Ela lembra que, entre as principais consequências da pressão alta estão o infarto agudo do miocárdio, o AVC, a doença renal crônica e a insufiência cardíaca.
Para o cardiologista Rodrigo Serpa Sestito, mesmo sem cura, a hipertensão pode ser muito bem controlada. “Procure seu médico para avaliações de rotina pelo menos uma vez por ano, só ele pode determinar o tratamento medicamentoso mais adequado para cada paciente e estimular a mudança no estilo de vida, como controle de peso, da alimentação e a prática de exercícios.”
O especialista relembra que a hipertensão é uma doença que, na maior parte das vezes, tem cunho genético, mas que fatores sociais, ambientais e o estilo de vida do paciente influenciam muito na manutenção de níveis pressóricos elevados.
Foto: DIVULGAÇÃO - Cardiologista Fábia Guidotti Menegoli reforça que, apesar do diagnóstico ser fácil de ser feito, a doença não tem tratamento definitivo