Considerado tão fundamental quanto qualquer outro hábito que contribua para uma vida mais saudável, a qualidade do sono se tornou alvo de diversos estudos relacionados aos efeitos da pandemia de Covid-19. Isso porque, segundo especialistas da área, importante parcela da população mundial passou a apresentar dificuldades para dormir no período, tendo como principais agravantes o estresse e a ansiedade.
De acordo com um levantamento feito pelo Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), 70% dos pacientes ouvidos, com idade acima de 18 anos, passaram a ter dificuldade para iniciar ou manter o sono durante a pandemia. O problema afeta também 58,6% das crianças, com idade entre 0 e 3 anos, percentual três vezes maior quando comparado a dados anteriores, conforme revela a pesquisa.
Esses dados, semelhantes aos da pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), indicando que cerca de 65% da população do país sofre de baixa qualidade de sono, trazem um fator preocupante. Segundo a análise, cerca de 34% destas pessoas afirmam ter insônia, mas somente 21% têm o real diagnóstico da doença.
O neurologista da Rede de Hospitais São Camilo de SP Paulo Nakano explica que, durante a pandemia, o aumento do estresse na população gerou uma piora significativa na qualidade do sono e, consequentemente, na saúde mental.
“Devido às mudanças na rotina e nos horários das atividades, à permanência nos domicílios e às inseguranças trazidas pela pandemia, muitos indivíduos passaram a dormir mais tarde que o habitual, a apresentar sono fragmentado, horários não regulados de sono e a passar mais tempo na cama, mesmo acordados”, destaca.
O médico ressalta que a piora do sono pode causar irritabilidade, alterações no humor, na capacidade de concentração, piora da memória e queda do desempenho profissional e/ou acadêmico.
Ele reitera, ainda, que o problema vai além da saúde mental. Quando um indivíduo está privado de sono, tem maior tendência ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares, Diabetes tipo 2, obesidade, aterosclerose, alterações gastrintestinais e imunológicas, entre outras.
“Há relação entre a duração do sono com hormônios reguladores do apetite, por exemplo, fazendo com que o indivíduo privado de sono sinta mais fome e maior desejo por alimentos calóricos”, salienta.
O especialista também revela que pessoas com distúrbios do sono tendem a apresentar maior resistência à insulina, bem como aumento de estresse oxidativo e dos marcadores inflamatórios sistêmicos, favorecendo inúmeras doenças.
SINTOMAS E TRATAMENTOS
Conforme o médico, a sensação de “estar sempre com sono” pode servir de alerta. Ela explica que sentir-se cansaço e sonolento, mesmo após dormir a noite inteira, e com dificuldade de se concentrar nas tarefas do dia a dia e demora para pegar no sono, mesmo sentindo-se esgotado, estão entre os primeiros sinais de distúrbios do sono.
A recomendação é procurar ajuda médica quando as alterações do sono estão trazendo prejuízos ao cotidiano, afetando as relações interpessoais e atividades diárias. O tratamento dependerá do histórico do paciente e tipo de distúrbio identificado, podendo incluir uso de medicamentos associados a terapias multidisciplinares.
Além disso, o neurologista orienta a adoção de hábitos simples, que contribuem para a melhora da qualidade do sono: estabelecer a rotina de ir para a cama e acordar sempre no mesmo horário; se possível, arejar bem o quarto e criar um ambiente silencioso e sem luz; evitar realizar atividades físicas à noite, dando preferência para o turno da manhã; preferir alimentos leves no jantar e evitar bebidas alcoólicas ou estimulantes, como café ou chá preto; não realizar atividades na cama, como ver TV, e evitar ler e-mails e notícias ou checar redes sociais na hora de dormir; meditação e atividades leves ajudam a relaxar e a “desligar” o cérebro.
Autor