Em 14 de novembro, a Federação Internacional de Diabetes (IDF) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) celebram o Dia Mundial do Diabetes, com o objetivo de conscientizar a população sobre a prevenção e os cuidados relacionados à doença.
Nos últimos 10 anos, o número de diabéticos no Brasil aumentou 30%. Segundo o Ministério da Saúde, são cerca de 13 milhões de pessoas doentes e pelo menos 2 milhões não vão ao médico periodicamente – o que pode elevar o risco de complicações crônicas.
O diabetes, caracterizado pela insuficiência de insulina e aumento dos níveis de glicose no sangue, apresenta uma série de sintomas que incluem fraqueza, perda de peso, fome e sede constantes. A doença tem três tipos principais, com fatores de risco específicos.
A médica Fernanda Valentin Assis Poiani, endocrinologista e nutróloga, tem vasta experiência no tratamento da doença e, já na vida adulta, descobriu que ela também é uma paciente, sendo portadora do Diabetes Autoimune Latente do Adulto (LADA).
O Regional: O que é diabetes e quais são os principais tipos? Qual o mais preocupante?
Fernanda Valentin: Diabetes é uma condição crônica que ocorre quando o corpo não produz insulina suficiente ou não consegue utilizá-la adequadamente. A insulina é o hormônio responsável por ajudar a glicose a entrar nas células para ser usada como energia. Existem três tipos principais de diabetes: Diabetes Tipo 1 - doença autoimune em que o sistema imunológico ataca as células do pâncreas que produzem insulina; Diabetes Tipo 2 – o tipo mais comum, geralmente associado ao excesso de peso e ao estilo de vida sedentário, em que o corpo ainda produz insulina, mas não a usa de forma eficaz; e Diabetes Gestacional - quando os hormônios da placenta interferem na ação da insulina. Além desses, existem outros tipos menos comuns.
O Regional: Quais são os fatores de risco e principais sintomas do diabetes?
Os principais fatores de risco e sintomas do diabetes variam conforme o tipo, mas há alguns fatores e sintomas gerais comuns a todos eles. No Diabetes Tipo 1, o histórico familiar (parentes de primeiro grau com diabetes tipo 1), algumas infecções virais que podem desencadear a resposta autoimune e fatores genéticos e autoimunes. No Diabetes Tipo 2, sobrepeso e obesidade, sedentarismo, alimentação rica em açúcares e gorduras; histórico familiar; idade acima de 45 anos; pressão alta, colesterol alto ou síndrome metabólica. Já o Diabetes Gestacional tem como fatores de risco a idade acima de 25 anos, histórico familiar de diabetes, excesso de peso antes da gravidez, histórico de diabetes gestacional, e síndrome dos ovários policísticos. Quanto aos sintomas, os principais são sede excessiva (polidipsia), aumento da frequência urinária (poliúria), fome excessiva (polifagia), perda de peso inexplicável (mais comum no tipo 1), fadiga, visão turva, cicatrização lenta de feridas e infecções frequentes.
O Regional: Diabetes tem prevenção?
O diabetes pode sim ser prevenido, especialmente no tipo 2. As recomendações são manter peso saudável; praticar atividades físicas regularmente; ter alimentação balanceada, preferindo alimentos integrais, evitando açúcares refinados e gorduras saturadas; e controlar o estresse, que em níveis altos podem prejudicar a regulação de glicose. Para pessoas com histórico familiar ou outros fatores de risco, exames de glicose são importantes.
O Regional: Qual é o papel da dieta no controle do diabetes?
Pessoas com diabetes devem evitar ou limitar o consumo de alimentos que possam aumentar rapidamente os níveis de glicose no sangue. Os principais alimentos a serem evitados incluem açúcares refinados, carboidratos refinados, bebidas açucaradas, alimentos ultraprocessados, frituras e gorduras saturadas, bebidas alcoólicas e sucos de frutas.
O Regional: Você vivencia os dois lados desse tema, como profissional de saúde e como portadora do diabetes. Por que é tão difícil lidar com o diabetes?
Acabei descobrindo um tipo de diabetes chamado LADA, é como um tipo 1, porém do adulto. Foi um susto enorme, pois no momento da descoberta já iniciei uso de insulina. Vivencio diariamente as dificuldades, principalmente relacionadas ao açúcar, pois gosto muito de um docinho, mesmo que seja ocasional. Hoje lido muito bem com o tratamento, uso insulina e medicações via oral, me adaptei a uma vida mais regrada no açúcar e tenho as minhas exceções.
O Regional: Quais são as complicações em longo prazo do diabetes?
As complicações a longo prazo incluem doenças cardiovasculares, com aumento do risco de infarto e derrame; a neuropatia diabética - danos nos nervos, causando dor, formigamento e perda de sensibilidade, especialmente nos pés; a nefropatia diabética - danos aos rins, que podem levar à insuficiência renal; retinopatia diabética - danos aos vasos sanguíneos dos olhos, podendo causar perda de visão; pé diabético - feridas e infecções nos pés, que, em casos graves, podem levar à amputação; problemas de pele e complicações no sistema imunológico.
O Regional: O diabetes também pode afetar a saúde mental?
O diabetes pode impactar a saúde mental de várias maneiras, pois é uma condição que exige monitoramento contínuo e adaptações no estilo de vida.
O Regional: As novas tecnologias têm contribuído com a qualidade de vida do paciente?
Sim, as novas tecnologias e aplicativos têm contribuído significativamente para melhorar o controle e a qualidade de vida dos pacientes com diabetes. Algumas das principais inovações incluem monitores de glicose contínuos (sem a necessidade de picadas nos dedos), bombas de insulina e sistemas automatizados e aplicativos de controle, que ajudam a registrar dados de glicemia, alimentação, atividade física e insulina, facilitando o acompanhamento da glicose e permitindo que o paciente e seu médico acompanhem tendências ao longo do tempo.
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