“Xanadu pode ser logo ali”

Existe um lugar aqui dentro do peito, uma Shangri-la, uma Xanadu, uma Passárgada... sei lá... Pouco importa o nome. Importa saber que lá é o meu lugar ideal, aonde vou quando quero banhar-me nas águas da paz e visitar o que há de melhor em mim. 

Cika Parolin 

 

Escolhi o caminho de ser grata.” 

Olívia Newton-John 

 

Xanadu é um filme de 1980, protagonizado pela cantora e atriz Olivia Newton-John que faleceu no último dia 8 de agosto de 2022, vítima de câncer de mama, aos 73 anos de idade. A artista revelou que lutou três vezes contra o câncer de mama, desde 1992. 

O filme Xanadu foi um grande sucesso da atriz que já havia brilhado em outro grande êxito do cinema, Grease – nos tempos da brilhantina. Xanadu é um local “magnífico”, “exuberante” e, nele, a atriz interpreta Kira, deusa grega da dança, que vem à Terra ajudar um artista de rua a realizar seu sonho. 

Independente da qualidade do filme, e isso não vem ao caso agora, a partida de Olivia Newton-John nos faz refletir sobre muitas coisas importantes, principalmente no âmbito cultural dos nossos tempos e o papel do artista e da Arte para a sociedade.  

Um dos pontos que nos chamou a atenção, foram as manchetes sobre sua morte. Não que as pessoas tenham que saber tudo e acompanhar os detalhes pessoais de todos os artistas, em tempo integral, principalmente aqueles que tiveram seu apogeu em outras épocas. Nada a ver.

No entanto, diante da notícia de morte de uma artista, conhecida mundialmente, e que marcou gerações, é preciso buscar informações para situar sua perda num contexto mais abrangente. Principalmente, no caso da cantora britânica, criada na Austrália, e que ganhou o mundo cantando e atuando. Porque sua vida não se resumiu a carreira artística. Sua formação cultural lhe proporcionou uma consciência diferenciada e a projetou para ações humanas maiores. 

Algumas dessas manchetes jornalísticas anunciaram, de forma semelhante, chamadas do tipo: “estrela do filme Grease morreu de câncer”, ou “a atriz do filme Grease, que também era cantora, morreu...”, ou seja, limitaram uma artista dentro de uma informação superficial. 

Olivia Newton-John foi, antes de tudo, uma cantora de sucesso que, uma vez ou outra, atuou em alguns filmes. Mais que isso, foi uma ativista em causas ecológicas, com muita dedicação e ações que mobilizaram milhares de pessoas em torno de uma consciência sobre o futuro do nosso planeta. E teve sua sublimação humana ao enfrentar, por 3 vezes, o câncer. Não lutou sozinha, porém. Criou uma organização, a Olivia Newton-John Foundation Fund, que financia pesquisas para descobrir maneiras de prevenir, tratar e curar todos os tipos de câncer. 

E, assim, temos A Artista! 

Como muitos outros, Olívia Newton-John teve imenso sucesso, vendendo milhares de cópias de discos, com muitos êxitos de bilheteria no cinema e lotando shows em todo mundo até sua mais recente turnê. 

O câncer mudou sua vida, não poderia ser diferente. E sua postura é de exemplo para todos nós. Ela afirmou: "Eu não sou uma vítima e não quero ser uma. Sinto que o que aconteceu comigo teve um propósito”. E isso a conscientizou, mais ainda, de que precisamos ser confiantes, mesmo diante de tantas dificuldades, pois a vida é intensa e, para nós artistas, Arte e Cultura são instrumentos de construção de uma sociedade melhor. Uma sociedade que adoece num vazio, carente de conteúdo e vivência lúdica, estética, cultural.  

Quando renunciamos à cultura, padecemos de ideal. Apagamos a luz do conhecimento e não nos prevenimos de doenças emocionais e psíquicas, do vazio existencial. 

Mas é preciso que nós artistas trabalhemos ardentemente por uma arte consistente no seu poder próprio de transformar o homem, melhorando a sociedade, encontrando a nossa Xanadu, onde reconheceremos a alegria de viver. Uma sociedade mais justa, livre, solidária, democrática e plena de valores humanos, culturais.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.