We Are The World

Foi há 40 anos. Na Etiópia, 90% da economia girava em torno da agricultura. Secas sucessivas e uma guerra que se arrastava há anos levaram a uma situação onde milhões de pessoas passavam fome. E centenas de milhares morreram por esse motivo. O cantor irlandês Bob Geldof assistiu a um documentário sobre esta tragédia humanitária e, comovido, promoveu um concerto para arrecadar fundos e ajudar no combate à fome. Foi assistido por 1,5 bilhão de telespectadores pelo mundo. Isso sensibilizou Harry Belafonte, ator, cantor, ativista e pacifista norte-americano. Ele convidou para a iniciativa os cantores Lionel Ritchie, Stevie Wonder e Kenny Rogers. Juntaram-se ao projeto o popstar Michael Jackson, que tinha acabado de lançar o icônico álbum Thriller, e o maestro mais premiado de todos os tempos: Quincy Jones.

Quem compôs a música foi Jackson, com ajuda de Ritchie. Alguns versos são retirados de uma música de Natal pouco conhecida no Brasil: “Do You Hear What I Hear?”, gravada em 1963 por Bing Crosby. Foi concluída apenas um dia antes da gravação do videoclipe, que aconteceu no estúdio particular do cantor Kenny Rogers, em Los Angeles, Califórnia. Havia uma multidão de músicos, técnicos e membros das equipes dos artistas presentes. Apenas uma pessoa poderia liderar o projeto e o fez muito bem: o maestro Quincy Jones. Ele organizou os arranjos, escolheu e determinou a participação de cada um e também a sequência da gravação.

Participaram da música: Michael Jackson e seus irmãos La Toya, Janet, Tito, Randy, Marlon, Jackie e Jermaine, todos eles ex-integrantes da banda Jackson Five, Lionel Ritchie, Stevie Wonder, Paul Simon, Kenny Rogers, Tina Turner, Diana Ross, Dionne Warwick (uma das minhas cantoras prediletas), Willie Nelson, Al Jarreau, Cyndi Lauper, Bob Dylan, Bruce Springsteen, Bette Midler, Smokey Robinson, o ator Dan Aykroyd, Bob Geldof, Harry Belafonte, Billy Joel, Ray Charles e mais 15 cantores.

A rádio tocava incessantemente a música. Ela é bonita mesmo. A canção comoveu e parou o mundo, chamando a atenção para este grave drama humanitário. Uma das maiores curiosidades deste videoclipe é a participação de Paulo Roberto da Costa, conhecido internacionalmente como “Da Costa”. Carioca do Irajá, levado aos Estados Unidos por Sérgio Mendes, participou da trilha sonora de mais de 150 filmes e gravou com mais de 900 artistas. Mais um prestigiado “lá fora” que é um completo desconhecido no Brasil.

A canção acabou inspirando outras iniciativas, como, em 1987, “Nordeste Já”, e em 2010, após o terremoto, vários artistas se uniram para gravar o We Are The World 25 for Haiti. Tanto tempo depois, nesses tempos de indiferença, violência, notícias falsas ou distorcidas, a mensagem da música permanece atual: “Nós somos o mundo”!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.