Wanda Duarte – a aviadora catanduvense

Um dos grandes nomes ligado à aviação internacional é do aviador Charles Augustus Lindbergh, nascido na cidade de Detroit – EUA, em 04 de fevereiro de 1902.

Charles ficou conhecido mundialmente pela realização de uma grande façanha no ano de 1927. Foi ele o responsável por ter feito o primeiro vôo solitário transatlântico, sem escalas, em um avião. Lindbergh partiu do Condado de Nassau, Estado de Nova Iorque – EUA, em direção à Paris – França, em 20 de maio de 1927, tendo pousado na capital francesa no dia seguinte. O avião usado por ele chamava-se “The Spirit of Saint Louis” e o vôo durou cerca de 33 horas e 31 minutos, rendendo-lhe um prêmio de 25 mil dólares.

O que nos interessa em especial nesse piloto é que depois dessa realização, várias pessoas foram atraídas para a aviação, com grande destaque para as mulheres, que antes eram vistas apenas como o ‘sexo frágil’.

O vôo das mulheres

Uma das primeiras mulheres que buscaram a aventura e a realização nos céus foi a americana Amelia Earhart.

Amelia rompeu com todas as fronteiras de sua época que pregavam que lugar de mulher era dentro de casa atrás de um fogão e cuidando dos filhos e do marido.

Nascida em 1897 no Kansas, ela nunca se encaixou nesse papel de menina frágil, mas subia em árvores e caçava ratos com uma espingarda calibre 22 quando era criança.

Seu amor ao avião se deu no ano de 1920, quando pela primeira vez ganhou um passeio nesse meio de transporte. No ano seguinte passou a ter aulas de pilotagem e juntou dinheiro para poder comprar seu próprio avião, mas por ironia do destino, precisou vendê-lo quatro anos mais tarde para poder ajudar sua família.

O grande mérito para a viadora se deu em 1928, quando ela se tornou a primeira mulher a fazer um vôo solo de ida e volta, cruzando todo os Estados Unidos.

Em 1932, Amelia tentou realizar o trajeto feito por Lindbergh anos atrás, decolando de Nova York rumo à cidade de Paris – França. No entanto, por problemas mecânicos por causa de congelamentos e ventos fortes, obrigaram a aviadora a pousar em um pasto na Irlanda. Mesmo não conseguindo realizar esta façanha, Amelia se tornou a primeira mulher a cruzar o oceano Atlântico sozinha.

Aviadoras no Brasil

Em nosso país, o interesse feminino pela aviação é bem antigo. A primeira mulher a obter um brevê do Aeroclube do Brasil foi Thereza de Marzo, feito realizado em abril de 1922, dez anos antes das mulheres conquistarem o direito de voto. Para poder realizar as aulas de pilotagem, Thereza teve que vender uma vitrola, pois seu pai não a apoiava, por causa dos costumes da época, embora também não a proibia.

Ela se tornou a primeira mulher a voar de São Paulo a Santos ainda em 1922, além de fazer parte da comitiva de aviadores que recepcionou os portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho, que haviam cruzado pela primeira vez o Atlântico Sul.

Porém, seus vôos duraram até o ano de 1926, já que após seu casamento foi proibida pelo seu marido de executar a arte de pilotar.

Um fato curioso sobre os primórdio da aviação feminina no Brasil foi um vôo realizado por Anésia Pinheiro Machado, outra pioneira da aviação, durante a revolução de 1924, em que São Paulo se levantou contra o governo federal, onde ela atirou um buquê de rosas no encouraçado Minas Gerais, próximo à costa de Santos. No ‘presente’, estava um aviso: “E se fosse uma bomba?”.

Catanduva

Catanduva também está inserida dentro da História da aviação feminina pelo nome de Wanda Duarte.

Wanda Martins Duarte de Almeida foi um grande símbolo local por também não se prender no estereótipo do que era ‘ser mulher’ naquela época, e que por sua coragem e busca pessoal integrou a primeira turma de aviadores do Aeroclube de Catanduva.

Wanda era filha única de Margarida Monteiro Salgado Duarte e de Antônio Martins Duarte, este um dos fundadores e presidente da Associação Comercial, do Clube 7 de Setembro e do Lions Clube local.

Desde pequena era interessada por aviões. Aos cinco anos de idade teve o primeiro contato com um avião, apesar de ter sido de forma trágica, já que seu pai tinha levado-a para ver um avião que havia caído na região.

Um ponto de destaque na vida de Wanda foi a influência e o apoio que teve de seus pais, que ao invés de tentarem fazê-la desistir de seus sonhos, a incentivaram ainda mais, alegando que queriam ajudá-la a satisfazer os ‘desejos malucos da época’.

Na adolescência, passou a estudar na cidade de São Paulo, e quando tinha 14 anos de idade, em viagem de férias em Catanduva, se inscreveu no curso de pilotagem em nosso aeroclube local.

Com 15 anos já pilotava aviões, mas somente em 18 de julho de 1942, quando atingiu a maioridade é que Wanda foi brevetada pelo Aeroclube de Catanduva.

Durante o curso, na 1ª turma de pilotos, teve como companheiros os catanduvenses João Clemente, Euclides Pereira, Rafael Dias, Antonio Angelo, Waldemar Guanaes Pereira, Francisco Rui Nicolielo, Modesto Zamarrenho, Antonio Ângulo Dias, Sebastião Barbosa, Cristóvão Baggio e Paulo Junqueira. Como instrutor tiveram o aviador Avelino Falco e o presidente do aeroclube era Alberto Cardoso.

Terminando o curso, Wanda não se contentou somente em pilotar aviões, mas também se inscreveu para o curso de paraquedismo no Aeroclube de São Paulo, sendo a única da turma de Catanduva a ir para São Paulo cursar tal modalidade.

Saltou pela primeira vez de paraquedas no Campo de Marte, em São Paulo, num avião fretado por seu pai, do francês Charles Astor. Wanda foi a primeira paraquedista brevetada no Brasil, realizando ao longo dos anos inúmeros saltos.

Sempre que saltava em São Paulo, era notícia nos principais jornais, que em algumas vezes lhe foram reservadas páginas inteiras, além de autógrafos a pessoas que a aguardavam nos campos e daqueles que já a reconheciam nas ruas.

Assim como aconteceu com outras aviadoras, após seu casamento com Geraldo Marques de Almeida, recebeu pedido para que abandonasse o ar, alegando que ele próprio tinha medo de voar e que temia por ela. Wanda abandonou o ar e passou a se dedicar à caça e à pesca, juntamente com seu marido, que juntos também gostavam de atirar.

Quando se deu a comemoração de 50 anos de seu brevê, o Aeroclube de Catanduva a homenageou com um cartão de prata em noite festiva.

Nesta ocasião, foi presenteada pelo jornalista e artista plástico Lecy Pinotti com uma verdadeira obra de arte: uma tela em tamanho natural, ao lado do avião, antes do salto.

Fotos

Amelia Earhart realizou duas grandes façanhas, nunca realizada por uma mulher: em 1928 realizou um vôo de ida e volta cruzando todo os Estados Unidos e em 1932 foi a primeira mulher a cruzar o Oceano Atlântico sozinha

Anésia Pinheiro Machado, uma das pioneiras da aviação brasileira, em um de seus vôos lançou um buquê de rosas em um encouraçado com um bilhete escrito “e se fosse uma bomba?”

Thereza de Marzo foi a primeira mulher a obter um brevê no Brasil pelo Aeroclube do Brasil, em 1922, sendo proibida de pilotar por conseqüência de seu casamento, em 1926

Wanda Duarte, formada na 1ª turma de aviadores do Aeroclube de Catanduva teve grande apoio de seus pais para a realização de seus ‘desejos malucos da época’

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.