Voz aos perseguidos

"Não existem datas comemorativas para carrascos;

somente os perseguidos são homenageados."

PENSAMENTO ANÔNIMO

O pensamento acima, ainda que anônimo, ilustra o quão atual ele o é, principalmente no mês das mulheres. Algumas vozes inconformadas ainda se levantam contestando a necessidade de comemorar datas como o Dia Internacional da Mulher e outras tão importantes quanto, alegando que há exagero ou fanatismo por parte de uma militância que não se apequena diante da cultura misógina que ainda persiste.

Triste realidade. Enquanto não houver conscientização sobre igualdade, respeito, justiça e oportunidades iguais para todos, exaltaremos as vítimas, as violentadas, os perseguidos, enfim, daremos vozes aos silenciados. Sim!

Datas específicas existem para homenagear aquelas pessoas que o mundo preconceituoso não quer enxergar. É necessário erguer o véu e revelar a vida pulsante que já existe e precisa tomar seu lugar no mundo. Para todos. Para todas!

Essa semana tivemos uma experiência encantadora e inesquecível com nossas alunas de teatro, adolescentes, que refletindo sobre a questão das mulheres, levaram arte, conhecimento e sensibilidade a toda escola. De classe em classe.

Foi uma performance objetiva que mostrava aos estudantes e educadores a relevância da mulher através da história, enaltecendo personalidades femininas que fizeram e fazem a história como Cora Coralina, Marie Curie, Malala Yousafzai, Anne Frank, entre outras.

A ideia da encenação foi, a partir da música Ai que saudade da Amélia, de Ataulfo Alves e Mário Lago, que tem uma letra extremamente machista (característica da época em que foi composta, ou seja, 1942) apresentar aos expectadores a luta das mulheres, cada uma em sua área de atuação, para romper a muralha do machismo e conseguirem ocupar seu espaço.

De forma simples e marcante, entraram com suas panelas em punho, e inspiradas em Chiquinha Gonzaga, (Ó Abre alas que eu quero passar...) afirmaram a importância da mulher.

Meninas, meninos, jovens, educadoras se emocionaram com a força dessas vozes teatrais tão intensas e tão delicadas ao mesmo tempo, principalmente pelo fato de terem

iniciado o curso de teatro recentemente. O desafio de se apresentarem aos colegas e professores foi muito grande. Sentiram desde o começo que a mulher precisa buscar seu espaço na sociedade machista em que vivemos.

Ficamos felizes e impressionados. O resultado não poderia ser mais legítimo!

Como foi importante e consciente a escola abrir espaço para que as meninas entrassem nas salas de aula revelando o coração feminino, “um coração batendo no mundo”, como escreveu Clarice Lispector*, tão sublime e verdadeiramente.

São momentos lindos como esse que nos alentam e nos fazem pensar que um dia, talvez, não precisaremos mais de datas comemorativas específicas para homenagear os perseguidos, os excluídos, as vítimas de carrascos da história, pois no sonhado futuro, seremos todos iguais.

 

*Escritora e jornalista brasileira (1920-1977)

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.