Voluntariado e Simbolização

A marca principal do trabalho voluntário são os efeitos subjetivos que produzem em quem faz esse tipo de ação e em quem está sendo ajudado, ou seja, ao prover não apenas o que falta, mas colaborando para que ambos continuem crendo na existência humana.

Diante de um trauma, enquanto a pessoa não consegue se organizar a ponto de desenvolver um processo de simbolização que possibilite ao ego se reorganizar e pensar na tragédia vivida, dando sentido a angustia e consequentemente conferindo novos destinos que ficaram impedidos pela vivência traumática, a ajuda é uma maneira concreta neste processo de redirecionamento de vida e reorganização interna.

O maior trauma que um ser humano pode experimentar é o desamparo e a vulnerabilidade diante de situações que o faz perder antigas ilusões, e o aumento de sintomas sinalizam o quanto quem está nesta situação não consegue dar conta. Sensações terroríficas suscitam sempre que o temor do abandono e da perda do objeto emergem, semelhantes as vivências experimentadas no início da vida, e quanto mais desprotegidos nos sentimos mais teremos dificuldades para enfrentar tempos difíceis e desafiadores que virão depois de uma catástrofe.

A experiência traumática tem um papel congelante nos processos simbólicos de elaboração porque impõem ao sujeito um desgaste de investimento incessante que interditam o contato com a realidade e a possibilidade de pensar nas transformações vividas e no futuro.

Neste sentido, a ajuda externa irá amenizar o sofrimento, e a maneira como a pessoa lida com suas experiências emocionais dará indícios da dimensão do trauma.

Acolher quem sofre reacende a esperança no processo de simbolização, e nomear a situação, além de alívio, pode ajudar no processo ficando passível dele ser pensado e transformado.

Situações difíceis necessitam de tempo para dar sentido a situação traumática sendo a ajuda um sinal de luz para reorganizar o que já se fez presente em tragédia.

O voluntariado aumenta a crença na própria existência dando esperança para o outro que sofre e sentido de coletividade para quem ajuda, porque olhar ao redor ensina muito sobre nós mesmos.

Em termos psíquicos, a vivência de um acolhimento promove reinscrições psíquicas capazes de transformar o próprio trauma dando esperança para quem está sofrendo.

O voluntariado é um caminho de esperança para quem dá e recebe o amor.

Música “Ao Fim de Tudo”, Cidadão Quem.

 

Foto da ONG Afago, acervo @auguri_humanamente ©

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br