Você é sua assinatura

Lembra quando, na transição da infância para a juventude ou para a vida adulta, você precisou escolher sua assinatura para que, pela primeira vez, pudesse escrevê-la e registrá-la em um documento oficial? Lembra quantas e tantas horas, talvez dias, de esforço, desenhando e redesenhando linhas com estilos diferentes, até que você obteve o padrão final, o exemplar graficamente satisfatório e público de sua personalidade?

Ao escolhermos uma assinatura, estamos escolhendo uma marca pessoal, um símbolo que expressa quem somos (maior autenticidade) ou como queremos ser vistos (menor autenticidade) por aqueles que eventualmente observarem nossas assinaturas.

Até um século atrás, a assinatura era motivo de grande elaboração. Além de uma caligrafia mais esmerada, com letras mais bem desenhadas, a assinatura carregava também símbolos de identificação social. Reis assinavam seus nomes com um R final após o prenome, bispos e altas autoridades eclesiásticas utilizavam pequenas cruzes no início, maçons valiam-se de pontos cifrados sobre e sob as letras, etc. Havia grande preocupação estética com a assinatura pois esta era capaz de fornecer muitas informações para além do nome do signatário. Sua posição na sociedade, sua religião, sua afiliação filosófica, entre outras condições sócio-culturais, estavam pespegadas à assinatura, tal qual um selo, sinete ou brasão durante a Idade Média.

Esta discussão acerca da assinatura nos leva à discussão acerca da formação da nossa personalidade e, por fim, da formação do nosso imaginário pessoal. Hoje em dia, a ciência Grafotécnica já é capaz de assegurar não apenas se uma assinatura é verdadeira ou falsa: ela vai além, elaborando diagnósticos psicológicos muito apurados acerca de quem e em quais condições de tempo e espaço determinada assinatura foi assinada. Todos os traços contam uma história fidedigna a respeito de quem depôs sua assinatura no papel.

Quem assina, assina para firmar um documento público ou particular e, ao mesmo tempo, assina para afirmar quem é enquanto indivíduo. Um bom exercício de auto-conhecimento é, no presente, tentar desvendar a própria assinatura como fruto do passado, recente ou remoto: quem, o quê, onde, quando, onde, por quê, como ela foi arquitetada? A assinatura mudou com o tempo ou permanece idêntica à originária? Você, mudando pessoalmente, também mudou ou não as linhas, os sinais, a pressão da caneta sobre o papel, o tamanho dos caracteres, o tipo de fonte, a inclinação, o estilo? A assinatura que você assina hoje ainda lhe representa?

Sua assinatura é seu estandarte personalíssimo: ela lhe descreve enquanto você a escreve. Conclusão: você é sua assinatura.

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor