Viver sem morrer

“Eu sinto que trabalhar é viver sem morrer.”

Rainer Maria Rilke

Poeta e romancista austríaco (1875-1926)

Em trocas de cartas com o escultor francês Auguste Rodin, de 1902 a 1913, Rainer Maria Rilke – profundo admirador do artista francês, exalta a essência do trabalho como fonte de vida, de significado existencial. Rodin o influenciou profundamente e isso foi revelado não só no livro “Rodin”, de Rilke, como em obras de outros autores que estudaram a importância do trabalho árduo, constante e quase insano de Rodin e seu alcance sobre o poeta austríaco.

“Trabalhar é viver sem morrer”, escreve Rilke a Rodin, reconhecendo que uma vida vazia e improdutiva não nos engrandece em nada. Pelo contrário. Não há vida satisfatória, é uma constante inércia que gera tristeza, nos adoece, ainda que não percebamos ou tentemos disfarçar, convencendo-nos e tentando convencer os outros de que tudo está bem. Mas não está. Adoece o corpo e a alma.

O descontentamento pode parecer difícil de se reverter num ciclo vicioso, principalmente numa rotina pobre de anseios em que grande parte da sociedade se encontra nos dias atuais.

Porém, sempre há alternativas. E, em qualquer circunstância, haverá sempre um pote de moedas de ouro no final do arco-íris, quando trabalhamos. Esse pote é nossos sonhos que queremos realizar, o final que desejamos atingir, nossas esperanças.

O trabalho é nosso grande cinzel. Os dias difíceis que estamos enfrentando pelo desafio financeiro e pelo desrespeito ao ser humano que, em nossa área chega a ser muitas vezes uma lâmina profundamente cortante, pois muita gente desconsidera nosso ofício, a necessidade de trabalhar é ainda mais vital.

A vantagem é que trabalhamos no que amamos e isso torna-se capital pois que produzir com amor gera o bem-estar, uma motivação que ilumina os pensamentos e atitudes, os caminhos que temos que seguir. Produz satisfação que é a felicidade possível neste mundo, o trabalho que é “viver sem morrer”, transformando-nos em profissionais mais capazes, verdadeiros e prósperos.

O diretor, ator, pedagogo e escritor russo Constantin Stanislavski (1863 – 1938) nos ensinou que “o ator deve trabalhar a vida inteira, cultivar seu espírito, treinar sistematicamente os seus dons, desenvolver seu caráter; jamais deverá se desesperar e nunca renunciar a este objetivo principal: amar a arte com todas as forças e amá-la sem egoísmo”. Que inspiração reconfortante! Para todos, não só para os artistas.

Trabalharemos, sim, sem dúvidas, sem descanso, ainda que contra as tormentas do descaso, dos prejuízos da prepotência de alguns que acreditam possuir o nosso destino em suas mãos. Não. Ninguém tem esse poder, ainda que permaneça sobre nós a nuvem escura da ignorância.

Ante a escuridão, trabalhemos! Cada um de nós, independente do que façamos, aprendamos a amar nosso próprio ofício. Vamos insistir na criação, na inovação, na ousadia e oferecer a sociedade como um todo, o melhor. As dificuldades permanecerão, as afrontas e desafios insistirão a nos derrubar, mas não nos é permitido desistir. Não é fácil, mas não nos compete deixar de lado o que sonhamos. Sabemos que “trabalhar é viver sem morrer”, pois assim o temos feito há décadas, ainda que vez em quando desanimemos, principalmente frente ao sarcasmo e a indiferença.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.