A população de toda a região volta a ficar estarrecida com um crime de feminicídio, desta vez em Paraíso. O homem matou a esposa a facadas na frente dos filhos, depois de discussão na madrugada. Conforme relatos, entregou-se desorientado na manhã seguinte em Pitangueiras, na região de Ribeirão Preto. Na cidade pequena, como as notícias correm rápido, as pessoas dizem que o relacionamento do casal envolvia violência doméstica e que eles teriam separado há alguns dias. Para muitos, uma tragédia anunciada, apesar de o homem não transparecer nada disso no dia a dia. Além da violência brutal com que ela foi morta, chama a atenção nesse caso o fato de ele ter sido liberado após ser ouvido na delegacia de Sertãozinho, pois até ali não havia mandado contra ele. Um assassino confesso é colocado na rua com base na burocracia legal, jurídica ou policial, seja como queiram classificar. Tanto é que, depois que o documento foi expedido, a Polícia Militar teve de, digamos, “recapturá-lo”. Ou seja, ele teria tido tempo de ir para outra cidade e tentar sumir do mapa, caso tivesse se arrependido de ter se entregado, por exemplo. Parece loucura, mas é a realidade. Outro ponto a frisar é que esse caso não é isolado, ele compõe estatística nacional que mostra que todas as modalidades de violência contra as mulheres têm crescido. No ano passado, de acordo com o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os registros de feminicídio aumentaram 0,8%, as tentativas de feminicídio 7,1%, as agressões decorrentes de violência doméstica 9,8%, o stalking 34,5%, a importunação sexual 48,7%, as tentativas de homicídio 9,2% e a violência psicológica 33,8%, com relação ao ano anterior. Além disso, foram concedidas 540.255 medidas protetivas de urgência, com alta de 26,7% em relação ao ano anterior. Não há dúvidas. Todos esses números mostram que a violência contra a mulher é uma epidemia, fruto da estrutura machista em que vivemos e do contexto de violência. Algo precisa ser feito para contê-la.