Violência e feminicídio

O caso de feminicídio que chocou moradores do Jardim Santa Rosa mostra que a violência contra a mulher está enraizada na sociedade, sendo mais recorrente do que se possa imaginar. Até que algum sinal dos atos violentos seja visto pelas pessoas, a mulher já sofreu muito tempo, sozinha e calada. Não dá para saber detalhes da intimidade do casal e se de fato havia agressões, mas as sucessivas facadas desferidas contra a vítima de alguma forma revelam o sentimento de posse que ele tinha sobre ela, a ponto de tirar a vida de uma jovem de 19 anos. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, desde a tipificação do feminicídio pela Lei 13.104 em 2015, o número de casos tem aumentado anualmente. Em 2023, foram registradas 1.463 vítimas, o maior número desde a promulgação da lei. Esse aumento joga luz para uma cultura de desigualdade de gênero ainda presente nas relações sociais do país, que foi amplificada inclusive pela pandemia da Covid-19, que aumentou a convivência das mulheres com seus agressores e dificultou o acesso a serviços de denúncia e proteção. A falta de investimento em políticas públicas voltadas para a proteção das mulheres e a prevenção da violência é outro fator crítico. Além disso, a subnotificação dos casos é uma preocupação, pois muitos homicídios de mulheres não são classificados como feminicídios devido à falta de capacitação das autoridades policiais – já abordamos essa questão no jornal, em caso que envolveu a morte de uma artista transexual a golpes de tesoura. A interseccionalidade entre gênero e raça também é fator a ser lembrado, com mulheres negras sendo desproporcionalmente afetadas pela violência de gênero. Para combater o feminicídio, é essencial investir em políticas públicas que promovam a igualdade de gênero, a prevenção da violência e a proteção das mulheres. A conscientização e a mudança cultural também são necessárias para construirmos uma sociedade mais justa e igualitária.
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