Vingança

Um rico empresário leva a amante e dois comparsas para caçar no deserto. Tudo vai bem, até que a jovem é estuprada por um dos amigos do empresário, sem ele saber. Ela tenta fugir, e após discutir com o amante, é jogada de um penhasco. Sobrevive e inicia um plano de vingança contra os algozes, com direito a armadilhas e muito sangue.

Nos anos 70 o cinema dos EUA, da França e de outros países inauguraram um subgênero do terror chamado “rape and revenge”, dentro da linha do exploitation, aqueles que exploravam a violência e a tortura. “A vingança de Jennifer” (1978) é o mais conhecido, refilmado em 2010 como “Doce vingança”. Wes Craven também realizou “Quadrilha de sádicos” (1977), e até Ingmar Bergman fez um filme que anteciparia a ideia, “A fonte da donzela” (1960). Nos anos 90 e 2000, o “rape and revenge” (na tradução, “estupro e vingança”), voltaria com tudo, foram feitos filmes violentos como “A última casa” (2009). “Vingança” (2017) retoma esse aclamado subgênero do cinema independente atrelando uma história sobre empoderamento feminino, porém levado às últimas consequências. Na trama, três conhecidos, casados e ricos, organizam anualmente uma caçada no deserto. Um deles leva a amante, que acaba estuprada enquanto o namorado está fora. Há uma discussão, a jovem tenta fugir, mas é jogada num desfiladeiro. Eles acham que ela morreu, mas não... Abandonada à própria sorte, machucada (fica presa num galho que vara seu corpo), com formigas picando-a debaixo de um sol de lascar, miraculosamente renasce como uma fênix para se vingar dos criminosos. E daí é uma caçada infernal, com armadilhas, mortes brutais etc

Foi vendido como terror, com uma capa sanguinária da personagem ensanguentada segurando um rifle, no entanto é ação e um drama pesadíssimo – mas entendo que o que a personagem vive é um terror real, que dói na alma.

São apenas 4 atores em cena – a jovem e os três homens (destaque para a bonita atriz italiana Matilda Lutz, que tem forte presença e assume a figura de ‘final girl’). O filme é econômico nos diálogos, investe-se em cenas tensas que deixam o coração na mão. A diretora e roteirista francesa Coralie Fargeat, usa uma boa direção de arte e fotografia que incomoda: no meio do deserto acalorado, vidros rosas, brincos da protagonista que reluzem, em formato de estrela, sem falar do sangue que explode na tela. Há cenas criativas, com destaque para a da fênix que estampa o rótulo de uma lata de cerveja e é usada pela personagem para cicatrizar a ferida – a fênix acaba como um decalque na barriga dela.

Polêmico, simbólico e sangrento, foi lançado em bluray pela Versátil.

Vingança (Revenge). França/Bélgica, 2017, 108 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por Coralie Fargeat. Distribuição: Versátil Home Video

Autor

Felipe Brida
Jornalista e Crítico de Cinema. Professor de Comunicação e Artes no Imes, Fatec e Senac Catanduva