Vieram do Sul

Trago ao estimado leitor o que o Rio Grande do Sul já deu para o Brasil em termos de música. Citarei apenas os que ganharam projeção nacional, sem menosprezar de forma alguma os que fizeram sucesso local ou regional. 

Começo com o “boêmio” Nelson Gonçalves (1919 – 1998) que nasceu em Sant´Ana do Livramento. Dispensa apresentações. Vendeu quase 80 milhões de discos. Ainda, das antigas, tem Lupicínio Rodrigues (Porto Alegre, 1914 – 1974), autor de clássicos da música brasileira, tais como “Ela disse-me assim – vai embora” (1959), “Cadeira vazia” (1950), “Esses moços – pobres moços” (1948). Tem a Xuxa (1963-), “rainha dos baixinhos”, nascida em Santa Rosa, “berço nacional da soja”. 

Os principais cantores que popularizaram a música gaúcha para o resto do Brasil foram Berenice Azambuja (Porto Alegre, 1952 – 2021), autora de “É disto que o velho gosta, é isso que o velho quer” (1980), o gaiteiro Renato Borghetti (Porto Alegre, 1963-) e a dupla de Pelotas, Kleiton (1951-) & Kledir (1953-), autores de “Deu pra ti” (1983), “Nem pensar” (1983), “Maria Fumaça” (1980) e “Vira Virou” (1980). Tem o Gaúcho da Fronteira (1947-) que na verdade é naturalizado pois nasceu em Laureles, Uruguai. 

Da MPB, destaco Elis Regina (Porto Alegre, 1945 – 1982), a “primeira estrela da canção brasileira” na década de 1960 e 1970. Uma das maiores intérpretes da nossa história. Alçou à fama compositores pouco conhecidos (Ivan Lins e Belchior). Tem Adriana Calcanhoto (Porto Alegre, 1965-), com trabalho autoral de qualidade e grande intérprete. Humberto Gessinger (Porto Alegre, 1963-), fundador da banda Engenheiro do Hawaii (1985 – 2008), uma banda que compunha as letras das canções inspirada em obras de filósofos. Hermes Aquino (Rio Grande, 1949-), autor da belíssima canção “Nuvem Passageira” (1976), um dos temas da novela “O casarão”, do mesmo ano. 

Na música instrumental, temos um dos maiores violonistas do Brasil, Yamandu Costa (Passo Fundo, 1980-) e a Família Lima, grupo de rock sinfônico, vindos de Sapiranga. Por fim, destaco Radamés Gnattali (Porto Alegre, 1906 – 1988), cultuado maestro e arranjador que foi parceiro de Tom Jobim e criou peças famosas no mundo inteiro, como os arranjos para “Carinhoso”, interpretada por Orlando Silva em 1937 e a versão original de “Aquarela do Brasil” (1939) de Ary Barroso. Esse maestro fez parte da minha infância, embora eu não soubesse. Criou, com o compositor Braguinha toda a parte musical da coleção “Disquinho” (1960), uma caixa de discos de vinil coloridos, contendo histórias infantis e muitas músicas. Resistentes, não furavam apesar de eu ouvi-los incontáveis vezes. 

Diante da catástrofe e da tragédia que os nossos irmãos gaúchos estão passando, trago um sopro de alento e de esperança através da música. Vai passar. Força!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.