Um senhor passado

Amilcar Brunazo Filho e Maria Aparecida Cortiz trouxeram à luz obra que demonstra que a urna eletrônica é violável. O nome da obra é 'Fraudes e Defesas no Voto Eletrônico', editado pela All-Print, de São Paulo. Pretenderam os autores que o Tribunal Superior Eleitoral assistisse a uma demonstração prática de que a urna eletrônica é violável. A sugestão  foi recusada. 

A notícia a seguir mencionada foi divulgada em 1.982, logo após os acontecimentos, pela Rádio Jornal do Brasil. Bem mais tarde, já em 1.993, foi objeto de documentário, para o mundo, em órgão britânico, o Além do Cidadão Kane. 

Este o fato noticiado do qual falamos linhas atrás. Em 1.982, Wellington Moreira Franco foi candidato ao governo do Rio, pelo PDS. Contava com a simpatia do governo federal da época. Seu oponente era Leonel Brizola, pelo PDT, que não era bem visto pelo poder central. 

Naquela eleição, em urna eletrônica, votava-se para governador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito e vereador. Tudo de uma só vez! Dá para acreditar?  Complicado, não?  O eleitor tinha que votar, para todos os postos, em candidatos do mesmo partido, de tal sorte que, se um só fosse de partido diferente, o voto seria nulo por inteiro! Nulo! Sem discussão. 

Não sei, a mim parece que, nessa exigência, ficou evidente que os votos nulos e brancos viriam à luz aos montes.  Claro está que era operação muito difícil a ser enfrentada por grande parte dos eleitores. Daí o campo aberto para o voto em branco e para o voto nulo. Esse aspecto — quantidade considerável de votos brancos e nulos! — foi levado em conta para que nascesse estrutura, autêntica fraude, para dar vitória a Moreira Franco e consequente derrotar Brizola, tudo com o auxílio da urna eletrônica.   

Esta a mecânica da fraude: era só considerar os altos índices de votos nulos e brancos, aos montes, como votos do adversário de Leonel. E foi assim que a operação foi colocada em prática. Em lugar da confiança, a suspeita. 

Foi espetáculo de prestidigitação de dar inveja aos mais experientes ilusionistas.  A operadora do sistema era a Proconsult.  

Entretanto, Leonel Brizola, desconfiado, antecipando a possibilidade do esquema em tela ser posto em prática, contratou a Sysin, Sistemas e Serviços de Informática, para levar a eito apuração paralela. Por sua vez, a Rádio Jornal do Brasil também apontou votação divergente da oficial.  E não só. A operação boca-de-urna foi posta em prática, com eficiência! Os operadores, junto a cada sessão eleitoral, indagavam dos eleitores: quem o seu candidato? No final, a constatação de fraude veio à luz. A Rádio Jornal do Brasil esteve no ar o tempo todo, denunciando a fraude. 

Como se vê, a vida pregressa  da urna não é elogiável. O teor de sua folha corrida, se existisse, não seria lá essas coisas. Referida folha, sabe-se, é documento que informa se existem registros de crimes em nome da urna, com informações detalhadas, mantidas na base de dados da Polícia Federal.  

Por fim, registre-se que o grande lesado nessa história teria sido o eleitor: votou num candidato e o eleito seria outro...  

Não é muito estranho? 

Freud explica? 

Não. Fraude explica.

Autor

Marcílio Dias
É advogado e articulista de O Regional.