Um feitiço de 105 anos
Um bruxinho lendo atentamente um pesado livro, levitando sobre uma vassoura mágica. Para quem não viu, trata-se da mascote da 1ª Feira Literária de Catanduva, a Flica, que antecedeu as comemorações do aniversário da cidade, há quase 10 anos.
A imagem, simbólica para um evento promovido pela “Cidade Feitiço”, deixa transparecer nossa relação quase íntima com o tema. Não à toa, bruxas boas e más espalham-se pelas logomarcas de empresas e instituições locais.
A união da literatura à cultura mágica foi um golpe certeiro, se a ideia era estimular a imaginação – sobretudo das crianças – e o voo pelo mundo da fantasia. Nomes como Ignácio de Loyola Brandão e Gabriel, o Pensador reforçaram os atrativos.Enquanto me deliciava com o aprendizado proporcionado pelos palestrantes, pensei que aquele bruxinho que estampou o fundo do palco poderia ser real.
Com sua vassoura mágica, o pequeno ser fantástico voaria por Catanduva e poderia ver como nossa cidade cresceu e se desenvolveu. Cruzaria bairros, veria o colorido de nossos ipês, circundaria os “arranha-céus” e chaminés de nossas empresas.
Percorrendo nossa história, conheceria Antônio Maximiano Rodrigues e José Lourenço Dias Figueiredo, primeiros a se fixar nessas terras, e conversaria com o popular Minguta. Depois, viajaria 105 anos para assistir às nossas lutas e conquistas.
Ao passar pelos anos 1910, teria vivenciado o momento em que o cometa Halley passou por aqui e a chegada dos primeiros trens, junto à Estação Ferroviária Araraquarense. Mal poderia imaginar como os trilhos impulsionariam a economia dessa terra.
Do alto, o bruxinho desbravador veria as obras de Monsenhor Albino, grande personagem de nossa história. Depois, descobriria seu legado: o Hospital Padre Albino, a Igreja Matriz de São Domingos, a Faculdade de Medicina e tantos outros.
Com o passar das décadas, se divertiria com os confetes e serpentinas do “Melhor Carnaval do Interior”, nos desfiles e folias em clubes, que tanto deixam saudades. Veria auge e decadência dessa festa popular, que há anos tentam, em vão, resgatar.
Anos mais tarde, se desesperaria ao ver a cidade embaixo da água, com as enchentes dos anos 80. Depois, veria o progresso chegar e mudar a vida das pessoas. Só lamentaria a destruição ambiental e a poluição, hoje revertida, do rio São Domingos.
Satisfeito com o passeio por nossa trajetória, na viagem astral, permaneceria nos dias atuais para estimular pequenos catanduvenses a estudar e, assim como eu, amar Catanduva. Afinal, serão eles que cuidarão da cidade pelos próximos 105 anos.
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