Turistando

Viajo muito menos do que gostaria. Óbvio que é impossível conhecer tudo. Para viajar tenho algumas regras que eu compartilharei com meus raros leitores.

A primeira: não visite lugares onde estão acontecendo conflitos armados nem algo que se aproxime disso. Já fiz esta besteira. Fui parado, revistado e interrogado em barreiras militares em estradas no fim do mundo. Algumas vezes apontaram armas para mim. A troco de nada. Passei medo o tempo todo. Nunca mais!

A segunda: não vá a nenhum lugar inóspito, distante, de difícil acesso, com sistema de transporte precário. Já fiquei ilhado. Ninguém vinha e ninguém saia. Para se ter uma ideia do tédio, enjoei até do mar (desculpem-me o trocadilho). A possibilidade de ficar mais uma semana à toa, sem nada para fazer é terrível. Tem uma coincidência muito curiosa. Parece que todos os motoristas, pilotos ou barqueiros que te levam para estes lugares são malucos. É só prestar atenção nos cavalos-de-pau, fininhas e derrapadas que dão. E não pode reclamar. Piora. Não volto nem de graça!

A terceira: só vá onde tem algum grau de assistência à saúde. Qualquer um. Certa feita passei mal num vilarejo onde a farmácia mais próxima ficava a 40 km... Hospital? Nunca tinham ouvido falar. Eu até levo alguns remédios quando viajo. Mas não dá para levar de tudo. Tirei da lista este tipo de lugar.

A quarta: só vou onde tem um bom comércio. Padarias, farmácias, supermercados, bancas de jornal, eletrotécnica. De preferência onde tenha um supermercado 24 horas ou que abra até mais tarde. Não dá para viajar para onde todos dormem às 21 horas...

Quanto a hábitos de viagens, está fora de cogitação: camping (não tenho vocação para virar alimento de mosquitos), hotel ruim (e olha que para mim não precisa muito), lugares rústicos, água fria (nunca tomei banho de água fria, não vou começar agora), passeios para conhecer praias distantes, principalmente os que duram o dia inteiro, trilhas, pescarias, esportes radicais de qualquer natureza, ausência de energia elétrica, comidas com ingredientes exóticos, carnes de animais exóticos, bebidas, a mesma coisa.

Capítulo à parte são as malas. Tem passageiro que leva uma verdadeira mudança. O brasileiro é um dos povos que carregam mais badulaques para dentro do avião. Parece que estamos numa jardineira.

Especial atenção às lembrancinhas de viagem, daquelas do tipo “estive em tal lugar”. Tempos atrás, numa mudança, joguei todas fora. Não cabiam mais em lugar nenhum e só juntavam poeira. Valeu para zerar a prateleira e quem sabe, começar tudo de novo. O mesmo vale para fotos. Eu sempre tiro bastante fotos. Mas não as mostro para ninguém. Acho impossível alguém sentir o que senti na viagem.

Dizem que da vida nada se leva. Leva sim. As viagens. Mas, ai de mim! Passei da fase de suportar micos.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.