Trinta minutos e meio

Neste ano, comemoram-se os 50 anos de um disco que revolucionou a música brasileira: o primeiro trabalho dos Secos & Molhados. Tornaram-se um dos maiores fenômenos de vendas da MPB, ultrapassando um milhão de cópias em poucos meses. O grupo era formado por Ney Matogrosso, João Ricardo, Gerson Conrad e Marcelo Frias. O nome foi criado por João Ricardo quando, nas proximidades de Ubatuba, em um dia chuvoso, viu uma placa de armazém balançando anunciando "Secos e Molhados".

Este LP impressionou o público brasileiro. Era um grupo completamente diferente de tudo o que se conhecia na época. O vocal de Ney Matogrosso, letras contra a política da época, um estilo diferente de MPB e pelo rock progressivo. Muitos, consideram-nos precursores da onda de rock que viria na década de 1980. As apresentações tinham forte efeito visual, traduzido através das máscaras que o quarteto usava e da performance de palco nunca antes visto no Brasil.

São treze faixas, duração total de 30 minutos e 22 segundos. Destacam-se os sucessos “O Vira”, “Sangue Latino” e uma melancólica versão do poema de Vinicius de Moraes, “Rosa de Hiroshima”. Contou com a participação de Zé Rodrix em várias faixas.

Sua capa foi considerada a melhor de todos os tempos da música brasileira. Ela chocou o Brasil com sua extravagância e agressividade. Compunha-se basicamente das cabeças decapitadas dos músicos, servidas num banquete. Foi pensada por Antônio Carlos Rodrigues, fotógrafo do jornal carioca Última Hora. A ideia surgiu quando ele viu algumas meninas na praia com o rosto pintado. Ele montou uma mesa no seu estúdio com vários secos e molhados, colocou os músicos sentados em tijolos com a cabeça deles numa tábua de compensado recortada. Colocou uma toalha de plástico em cima. Depois, os maquiou-os para que não fossem reconhecidos. A montagem durou uma madrugada inteira. Posteriormente, os Titãs homenagearam-nos repetindo a foto com seus sete integrantes em 1995. A capa ainda gerou uma “desavença” entre os Secos & Molhados e a banda Kiss: há quem acredite que os norte-americanos, que lançaram seu disco de estreia poucos meses depois, em 1974, copiou a brasileira, devido à semelhança entre as maquiagens de ambos os grupos.

Foi o único álbum brasileiro a figurar entre os 100 discos mais importantes da história do rock. Ney Matogrosso sempre estranhou a classificação do álbum como um disco de rock já que há faixas com violão e apenas a voz dele, além de ser um trabalho inteiramente realizado em cima de poemas. Na verdade, era a atitude inovadora, desafiante, provocadora e transgressora que os fazia roqueiros, não a música. Ainda nos dias de hoje o álbum é alvo de estudos. Passados 50 anos de seu lançamento, ainda é um deleite escutar este disco, que permanece atual.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.