Tributo aos Sertanejos (II)

Terminando a matéria que iniciei semana passada sobre as duplas sertanejas da cidade de Itajobi – SP, que foram homenageadas na Praça 09 de Julho daquela localidade, através do monumento Tributos aos Sertanejos, hoje vou retratar a história de Liu e Léu e de Abel e Caim.

A iniciativa do monumento partiu da Câmara Municipal de Itajobi e foi inaugurado em 04 de abril de 2008.

Liu e Léu

Nascidos na cidade de Itajobi – SP, Lincoln Paulino da Costa (Liu) e Walter Paulino da Costa (Léu) são os caçulas de uma família de nove irmãos, filhos do casal Gabriel da Costa e Maria Rosa Mendes.

A dupla nasceu em uma família tradicional de cantadores e violeiros, além de contar com a influência dos pais, que também cantavam. Irmãos da famosa dupla Zico e Zeca, Liu e Léu sempre eram convidados a participarem das festas da região para cantar e dançar catira, outra característica marcante da família.

Com a ida de seus irmãos Zico e Zeca para a cidade de São Paulo, por volta de 1952 e 1953, Lincoln e Walter continuaram no interior trabalhando nas lavouras de café, cantando e dançando nas horas vagas.

Walter, antes de fazer dupla com seu irmão, começou a cantar na Rádio Emissora ZYS – 9 de Novo Horizonte, conhecida como Emissora do Vale do Tietê, com um vizinho seu, formando a dupla Sampaio e Neném Cunha.

Passado algum tempo, os irmãos começaram a cantar juntos, formando, assim, a dupla Liu e Léu.

Foram para a cidade de São Paulo, e por intermédio de seus irmãos Zico e Zeca, a dupla interiorana começou a ganhar espaço nas rádios paulistanas, atingindo o gosto popular de uma grande quantidade de pessoas.

Em 1959, apoiados por Teddy Vieira, que já era um grande amigo da família, Liu e Léu foram contratados pela gravadora Chantecler, para gravarem seu primeiro disco 78 rotações, onde esse primeiro trabalho contou com as músicas “Rei do Café” e “Carreiras de Cururu”.

A partir disso, continuaram ampliando cada vez seu espaço de circulação em rádios importantes da cidade de São Paulo, bem como foram gravando uma infinidade de discos, até que, em 1980, Liu e Léu lançam seu primeiro trabalho na sua própria gravadora, intitulado de “Sementinha”. Nessa gravadora, gravaram um total de 07 discos.

Ao longo de toda sua carreira, a dupla gravou 11 discos de 78 rpm, 28 LPs, 02 CDs de lançamento e vários CDs de coletânea.

A dupla só veio a se desfazer com o falecimento de Liu, ocorrido em 04 de agosto de 2012. Léu continuou cantando com o seu irmão Lourenço até falecer em 2019.

Abel e Caim

Os primos José Vieira, o Abel, nascido em Itajobi-SP, em 1929, e Sebastião Silva, o Caim, nascido em Monte Azul Paulista-SP, em 1944, cantavam desde a infância, antes da formação da dupla, que aconteceu quando eles se encontraram em São Paulo na década de 1960.

José Vieira fez dupla com Xupim, no ano de 1956, dupla essa que se apresentava na Rádio “A Voz de Catanduva”, enquanto Sebastião, ainda menino, integrava o “Trio Mirim”, que, em 1955, tinha programa próprio na Rádio Clube de Marília-SP. O Trio Mirim era composto por Bolinha (Sebastião), Esmeralda (irmã de Sebastião) e também o sanfoneiro Periquito. José Vieira também chegou a cantar durante um ano juntamente com o Vidoco, da dupla Vadico e Vidoco a qual havia se separado. Vidoco o havia convidado, pois sua voz cantando era semelhante à voz do Vadico. Fizeram programas de rádio e shows em circos, até que, numa oportunidade que apareceu para gravarem um disco, Vidoco achou melhor chamar o antigo parceiro, sem nada ter dito para José Vieira. E quando este chegou ao estúdio na hora combinada e soube que o Vidoco já havia feito a gravação com o “Vadico original”, decidiu deixar a dupla.

Algum tempo depois os dois primos se encontraram na Paulicéia Desvairada e resolveram se apresentar juntos no programa Cidade Sertaneja, na TV Cultura.

Em 1966, na mesma emissora, foram premiados num concurso de Violeiros sob o comando de Geraldo Meireles.

Entre mil e quinhentas duplas inscritas, eles conquistaram o primeiro lugar e ganharam um contrato com a Chantecler (hoje Warner Music) e também a gravação do primeiro LP. Destaque para “Desilusão de Dadá” (Yolando Mondine – Dorival Teixeira), “Santa Luzia” (Yolando Mondine – Dorival Teixeira) e “Mãe Amorosa” (Tanabil Aleixinho).

Foi Antonio Jacob (o Jacó da dupla “Jacó e Jacozinho”, em sua formação inicial) que sugeriu à nova dupla o nome “Abel e Caim”. E logo depois defenderam na Radio Nacional de São Paulo-SP (hoje Globo) a música “Natureza” (Dino Franco), no primeiro festival realizado pela emissora, onde conquistaram o terceiro lugar, sendo que no mesmo evento participaram também outras excelentes duplas de sucesso na época, tais como Tonico e Tinoco, Zico e Zeca, Liu e Léu, Cascatinha e Inhana e também o Duo Glacial, apenas para citar algumas.

Em 1968, gravaram o segundo LP, também pela Chantecler, destacando “A Bandinha” (Léo Canhoto), “Menino Boiadeiro” (Tanabi) e “Natureza” (Dino Franco), que conquistou o terceiro lugar do primeiro festival da Nacional, já mencionado logo acima.

Novas gravações e novos sucessos vieram, dentre os quais, “Derradeiro Adeus” (Dino Franco) e “Milagre do Retrato” (Sulino – Pedro Calandro), “Arca de Noé” (Martins Neto), “Pretinho Aleijado” (Teddy Vieira – Luizinho), “Chuva, Sangue da Terra” (Lourival dos Santos – Tião Carreiro), “Triste Ocorrência” (Jack – Abel), “O Menino e o Cachorro” (Dino Franco), “Adeus Boiada” (Nestor – Zeca), “Ingratidão de Filho (Jack – Caim) e “O Barco” (Jack – Abel), apenas para citar algumas.

Aos 81 anos de idade, Abel veio a falecer no dia 12 de janeiro de 2011, depois de ser internado para uma cirurgia para a troca da prótese no fêmur. Após a cirurgia houve rejeição da prótese, e depois de 34 dias internado, veio a óbito, colocando fim a dupla de violeiros.

Fotos:

Dupla Abel e Caim receberam inúmeros prêmios em festivais de música sertaneja, como o Concurso de Violeiros, em 1966, sob o comando de Geraldo Meireles, que, entre mil e quinhentas duplas, eles conquistaram o primeiro lugar e ganharam um contrato com a Chantecler

Caim no programa “Viola, Minha Viola”, com Inezita Barroso, depois da morte de Abel, que ocorreu em 12 de janeiro de 2011

Liu e Leu eram os filhos caçulas de uma família de 09 irmãos, que, dentre eles, já contava com a dupla famosa de Zico e Zeca

A dupla Liu e Léu só veio a se desfazer com o falecimento de Liu, ocorrido em 04 de agosto de 2012. Léu faleceu em 2019

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.