Tomar aquele café

Quando o advogado Marcílio Dias enviava seus artigos e crônicas para publicação nesta página, invariavelmente ligava para a redação do jornal para confirmar o recebimento de seus e-mails. Sempre muito cordial e polido, fazia algum comentário sobre o que tinha escrito, seguido por alguma piada bem-humorada e convidava para um café. Garantia que não custaria nada. Em mais de uma ocasião, por não conseguir falar com o editor responsável, insistia na ligação telefônica, para ter certeza de que o texto sairia e, quem sabe, repetir o convite para aquele café. Em um dos últimos textos, há um ano, maio do ano passado, falou sobre poder. “O fato é que quem tem poder imagina que tudo que faz está certo, porque tem liberdade de fazer tudo quanto quer. Das primeiras medidas que toma é neutralizar liberdade de expressão! Menos a sua, claro!”, abordando tema tão presente nos dias de hoje, em meio às fake news. Aliás, assim era Marcílio, sempre tão presente e necessário. Um mês depois, tentou ligar e, sem conseguir o contato pretendido por telefone, enviou e-mail anunciando que suspenderia as crônicas, pois estava transformando seu escritório em digital. Bem ele que tinha até podcasts em seu site, revelando-se sempre atual. “Em verdade, uma necessidade, mas um senhor transtorno. Não haverá tempo para pensar e escrever. Por favor, perdoe-me a "mancada" e guarde meu lugar para um breve, espero, retorno. Obrigado por tudo”. Foi seu texto, naquela ocasião. Infelizmente, o retorno não veio e não mais virá. A última mensagem também não trazia o convite para o café, talvez por ser on-line e não ao som da sua própria voz, como de costume. O “lugar” a que ele se referiu continuou à sua espera, ocupado por um ou outro colaborador, e certamente continuará para sempre. Afinal, há pessoas que são insubstituíveis. E assim era Marcílio Dias, que colaborou por anos com este periódico com textos e charges que, aqui, rende suas homenagens.

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Da Redação
Direto da redação do Jornal O Regional.