Toddy versus Nescau

Tempos atrás, li um post do meu amigo Elcio Sfair no Facebook, reclamando da intolerância das pessoas em relação à opinião alheia. 

A tolerância tem seu verdadeiro sentido muitas vezes incompreendido. É muito comum essa palavra ser utilizada no sentido de conivência, transigência com o erro ou a permissão da violação do direito. Este é um grave equívoco. A origem da palavra é latina e significa suportar um peso ou um fardo, paciência, aguentar, persistir, resistir. 

Filosoficamente significa admitir modos de pensar e de agir diferentes do nosso, seja de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos. Os homens são livres e iguais em direitos e a tolerância constitui-se no princípio cardeal para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um. 

Atualmente, praticar a tolerância a cada dia exige muito de nós, pois a conturbação social e a pressão psicológica exercida sobre o homem, torna-o mais do que nunca exigente, imprudente, agressivo, preconceituoso e até inconsequente. 

Mas fica a pergunta: quais os limites da tolerância? Pesquisei sobre isso. Aristóteles, em sua obra 'Ética a Nicômaco', diz que as virtudes são limitadas pela sua falta ou pelo seu excesso. A falta da virtude tolerância resulta em preconceito. O excesso, conivência.  

O filósofo espanhol, José Ortega Y Gasset, disse em relação ao sentido humano: "Vivir es tener que ser unico". A diversidade é a regra, e a norma é saber-se lidar com as diferenças, tanto individuais quanto entre grupos. O reconhecimento do outro, ou o reconhecer-me diferente do outro, não me condiciona, em qualquer sentido, a uma comparação entre mim e ele, da qual resultaria uma desigualdade, um "maior" e um "menor". 

É muito fácil ser tolerante com o que não me diz respeito, com aquilo por que não me interesso, ou em relação àquilo que não me sinto minimamente responsável. Basta fechar os olhos, não emitir opinião, não escutar ou tapar o nariz e seguir em frente. Eu já vi na minha vida muitos cursos de oratória, mas nunca vi um curso onde se aprende a escutar. As pessoas falam, mas não querem ouvir. As pessoas querem pregar, mas não suportam ouvir a pregação do outro. As pessoas querem emitir suas opiniões políticas mas ficam ensandecidas se outra pessoa não compartilha de suas crenças políticas. Agem como se houvesse uma verdade apenas. 

Voltando ao post do Elcio: “Se você falar que prefere Toddy ao Nescau, umas 15 pessoas que curtem Nescau irão te bloquear no Face, vão rotular quem toma Toddy de esquerda ou de direita. Alguém vai gritar: Vai tomar Toddy em Cuba! Ainda alguém falará que quem prefere um a outro é radical. Algum vegano vai te criticar por tomar leite. Alguém da defesa dos animais fará um textão pois Toddy tem uma vaca na embalagem”. Realmente está muito difícil. 

 

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.