Terra do sonho distante

Stavros Topouzoglou (Stathis Giallelis) é um jovem grego, de família humilde, que trabalha com o tio na Anatólia tomada pelos turcos. Ele mora num povoado pobre, no final do século XIX, e tem o sonho de ir embora e construir sua vida na América. O governo turco aumenta a pressão contra os imigrantes, então o pai de Stavros o envia para a capital, Constantinopla, para ganhar dinheiro. O sonho dele continua, e apoiado por parte da família, sozinho, tentará ir para os Estados Unidos, partindo de navio. Porém enfrentará uma série de percalços na dura jornada.

Emblemático filme épico escrito, dirigido e produzido por Elia Kazan com traços autobiográficos: é a vida do seu tio e de sua família na Anatólia. Na abertura, o própria Kazan narra: “Meu nome é Elia Kazan. Sou grego de sangue, turco de nascimento e um americano, porque meu tio fez uma viagem”. Enquanto ele conta rápidas passagens, aparecem cenas de uma antiga Anatólia, o grande planalto central da Turquia e da Ásia. Kazan continua, informando que a história que veremos na tela vem de uma tradição oral, contada por muito tempo pelos membros mais velhos de sua família. Na Anatólia, antigo lar do povo grego e armênio, depois invadida pelos turcos, seu povo viveu submisso e sob as armas do Exército turco. O tio de Kazan, Stavros, aqui é um jovem que quebrava gelos no pico da montanha para vendê-los na cidade, ao lado de um tio que é o mentor do rapaz. Kazan conta que a violência cometida pelo exército turco era constante, e o jovem quer ir para a América, a ‘terra dos sonhos’. E é aqui que começa a jornada complexa de Stavros, dividido entre o amor da família, a dificuldade financeira, a opressão na região onde mora – os fatos ocorrem nos últimos anos da última década do século XIX.

O filme é um retrato fiel e cheio de pormenores dos imigrantes que chegaram à América, contado com sagacidade e bela fotografia em preto-e-branco. É uma saga de quase 3h de duração – o filme saiu pela primeira vez em DVD muito tempo atrás, pela antiga Colecione Clássicos, hoje Obras-primas do Cinema, na metragem de 167 minutos, cinco minutos a menos que o original, de 174 min.

Produzido pela Warner Bros, foi todo rodado em Istambul, Atenas e depois Nova York. Indicado ao Oscar de melhor filme, diretor, roteiro original e direção de arte; venceu o Globo de Ouro de diretor e o de ator promissor, Stathis Giallelis – ator grego que fez poucos trabalhos no cinema, além de outras indicações como filme de drama e coadjuvantes como Paul Mann, Gregory Rozakis e Linda Marsh.

O diretor Elia Kazan, nascido na antiga Constantinopla, hoje Turquia, fez escolhas corretas para capturar a essência das origens de sua família nessa pequena obra-prima do cinema; da escolha do elenco a gravar na verdadeira região onde morou seu tio, passando por uma história difícil, de gente simples e sem heroísmo. Kazan, perseguido na época do Macarthismo, acusado de comunista e banido por um tempo do cinema, fez clássicos notáveis, de forte teor social, como ‘A luz é para todos’ (1947), ‘Uma rua chamada pecado’ (1951), ‘Sindicato de ladrões’ (1954) e ‘Vidas amargas’ (1955). A fotografia é brilhante, do premiado Haskell Wexler, de ‘No calor da noite’ (1967) ‘e ‘Um estranho no ninho’ (1975).

Terra do sonho distante (America America). EUA, 1963, 167 minutos. Drama. Preto-e-branco. Dirigido por Elia Kazan. Distribuição: Colecione Clássicos/Obras-primas do Cinema

Autor

Felipe Brida
Jornalista e Crítico de Cinema. Professor de Comunicação e Artes no Imes, Fatec e Senac Catanduva