Terminal Rodoviário de Catanduva (I)

Um dos pontos de Catanduva que, nos últimos anos, não tem se dado grande importância é o Terminal Rodoviário, pois grande parte da população, por possuírem veículos próprios, diminuiu a utilização do terminal. Porém, quem o observa diariamente, nota uma grande quantidade de pessoas que chegam e partem para diversos destinos desse país.

Desde os anos de 1910, quando chegou em Catanduva a tão esperada Estrada de Ferro, e com o passar dos anos, a construção das estradas de rodagem, foi se tornando cada vez mais popular o uso dos carros de aluguel, inicialmente os “fordinhos”, que ficavam próximos à estação e, posteriormente, as jardineiras.

O início

Carlos Machado, um dos ícones do jornalismo e da política catanduvense, em um artigo de sua coluna Fisco & Notinhas, do jornal A Cidade, de 14 de dezembro de 1975, traz que “(...) quando naquele 1º de maio de 1910, dava-se o ato inaugural da estação de Vila Adolpho, da Companhia Estrada de Ferro Araraquara (...) se afigurava de importância capital, diante da falta de estradas de rodagem de longo curso, realçando ainda vivo o carro de bois”.

Nesse primeiro momento, era muito faltosa a quantidade de estradas de rodagem em Catanduva, pois na própria região do Parque das Américas, como se alagava muito por causa das cheias do Rio São Domingos, se dificultava demais a construção de largas avenidas para o tráfego de veículos automotores.

No que diz respeito às estradas que ligava Catanduva com as cidades vizinhas, foi somente no final da década de 1910 que iniciou-se a construção de estradas ligando tais localidades. De acordo com Carlos Machado, em artigo no jornal A Cidade, de 26 de março de 1978, “(...) a construção de estradas de automóveis, que foram as de Catanduva a Itajobi inaugurada que foi a 03 de setembro de 1919; a de Tabapuã, pelo córrego dos Tenentes; a de Elisiário, aproveitando o leito da Estrada de Ferro São Paulo – Mato Grosso, em demanda a Urupês; a de Catanduva a Catiguá; a de Catanduva a Palmares Paulista, com ligação a Pindorama. Estradas que ensejaram transformar Catanduva como cidade chave da média araraquarense”.

Logo após a construção de estradas que ligavam municípios vizinhos, o problema da várzea do Rio São Domingos foi sanado, inclusive contando com ajuda do Governo do Estado de São Paulo, e as ruas de Catanduva começaram a aparecer.

Inicialmente, tivemos a construção dos passeios da Rua Brasil, em 1924, o calçamento com paralelepípedos nas principais ruas e no pátio da estação, em 1935, um aterramento em toda a região do São Domingos, inclusive com a plantação de Eucaliptos, na parte aterrada, onde, mais tarde, nas gestões dos prefeitos municipais João Lunardelli (1941-1943) e Sílvio Salles (1943-47), foi o cartão de visita da cidade durante muitos anos.

A Estrada de Ferro

Um dos pontos interessantes de perceber sobre as estradas de rodagem e, futuramente, sobre a Estação Rodoviária de Catanduva é a importância da Estrada de Ferro para sua realização.

É inegável a importância que a Estrada de Ferro teve para o crescimento e desenvolvimento de nossa cidade, mas também devemos esse desenvolvimento às pessoas de cidades vizinhas que aqui vinham fazer suas compras e negócios, como também precisavam chegar até a nossa cidade para utilizarem o trem, como os viajantes que pernoitavam por aqui e, de ônibus, chegavam aos municípios vizinhos.

Para esse transporte de idas e vindas às cidades vizinhas, as linhas de ônibus intermunicipais também tiveram uma grande importância. Uma boa parte das saídas e chegadas deles era compatível com os horários dos trens.

Com a nova Estação de Trem, em 1920, já que a primeira tinha sido incendiada pela população em 1919, os automóveis tinham pontos juntos à estação, inicialmente os fordinhos e depois as jardineiras e os ônibus.

Interessante notar que nessa época o Projeto de Lei Nº 2, aprovado pela Câmara Municipal de Catanduva em 15 de janeiro de 1923, que regulamentava o trânsito no município de Catanduva, determina que “(...) os veículos automóveis na cidade não poderão ter velocidade acima de 20 quilômetros por hora e os veículos caminhões, até 10 quilômetros por hora, no máximo”.

Em 1934 foi construída a passarela sobre a linha férrea, unindo as ruas Brasil e Rio Grande do Sul, no Higienópolis, facilitando e encurtando o caminho aos que precisassem ir a pé, de um lado ao outro da cidade. Por outro lado, o ponto das jardineiras deslocou-se para este lado da Rua Rio de Janeiro.

Rodoviária

Com a grande circulação de ônibus e jardineiras na cidade, com o passar do tempo foi surgindo a necessidade da construção de uma estação rodoviária no município, fato que foi se concretizar somente no final da década de 1950, na gestão do prefeito municipal José Antonio Borelli.

O jornal A Cidade, de 11 de novembro de 1941, já trazia a matéria “Uma Estação Rodoviária em Catanduva”, onde destacava que “(...) Catanduva é um centro para onde converge todo o movimento de uma grande periferia. Aqui chegam e daqui partem, continuamente, numerosos veículos conduzindo o elemento humano que desenvolve atividades construtoras de riqueza econômica da cidade e da região. É serviço admirável das jardineiras que chegam a todas as localidades, que têm contato com todos os sítios. E, apreciado esse aspecto, ressalta a necessidade da estação rodoviária, isto é, aliás, o que observam quantos forasteiros aportam à nossa cidade”.

A matéria ainda ressalta que a obra era cara para a época, porém, logo se anima afirmando que “(...) esteve entre nós um capitalista residente na cidade de Ourinhos, que se mostrou entusiasmado com a ideia da realização da empresa. Trata-se do Sr. Pedro Mattar, elemento do alto comércio daquela cidade, onde possui as instalações de único distribuidor de gasolina para o Norte do Paraná e Alta Sorocabana (...) está disposto a construir a Estação Rodoviária de Catanduva, bastando para isso que a prefeitura lhe conceda licença para edificá-la no terreno da margem direita do Rio São Domingos, em frente ao Posto Brasil (...)”.

O prefeito municipal da época, Sr. João Lunardelli, estava iniciando o aterramento da várzea do Rio São Domingos e o terreno pretendido seria onde se encontra, aproximadamente, a Câmara Municipal de Catanduva, já que o posto de gasolina citado se localizava onde hoje está instalada a Farmácia Coração de Jesus. Infelizmente, a ideia não se concretizou. (Continua no próximo domingo).

Fontes de Pesquisa:

- Jornal A Cidade, de 14 de dezembro de 1975.

- Jornal A Cidade, de 26 de março de 1978.

- Boletim Só 10, de autoria do professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, Nº 44, de agosto de 2009.

- Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino.

Fotos:

Ponto das jardineiras ao lado da Estação Ferroviária de Catanduva, em 1940. No fundo é possível ver os prédios antigos da Rua São Paulo

Era muito comum, em épocas passadas, a utilização de charretes para o trasporte de pessoas em Catanduva. Nesta foto, de 1945, temos o ponto de charretes da Praça da República, tirada na esquina das ruas Alagoas com Maranhão

Pelo Projeto de Lei Nº 2, aprovado pela Câmara Municipal de Catanduva em 15 de janeiro de 1923, que regulamentava o trânsito no município de Catanduva, este determinava que “(...) os veículos automóveis na cidade não poderão ter velocidade acima de 20 quilômetros por hora e os veículos caminhões, até 10 quilômetros por hora, no máximo”. Nesta foto, rua Brasil nos anos de 1930

Primeira Estação Ferroviária de Catanduva, inaugurada em 1910. Nesta foto, é possível perceber que as charretes faziam pontos perto à estação, já que por lá se circulavam grande quantidade de pessoas e mercadorias

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.