Tempos difíceis
A condução da saúde pública no Brasil, apesar de constitucionalmente garantida como direito de todos e dever do Estado, enfrenta desafios estruturais profundos, sendo a escassez de recursos para o essencial agravada significativamente pela corrupção. O principal obstáculo talvez resida na dificuldade de gerir um sistema de proporções continentais, que precisa atender a população diversa com necessidades variadas. O subfinanciamento crônico é uma realidade, mas a eficácia do gasto é ainda mais comprometida. Mesmo com a destinação constitucional de verbas, a saúde frequentemente perde prioridade orçamentária em detrimento de outras áreas ou é alvo de desvios. A corrupção no setor da saúde é particularmente nefasta porque atinge diretamente a vida e a dignidade humana. O desvio de verbas, que ocorre em diversas etapas – desde a compra superfaturada de medicamentos e equipamentos até a má gestão de contratos de serviços terceirizados –, resulta em consequências diretas e trágicas. Infelizmente, foi exatamente o que presenciamos com condutas de ex-diretores do Hospital Mahatma Gandhi, denunciadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, que acabaram por desestabilizar a instituição e, pelo que se vê agora, resultar em rompimentos contratuais em série. Os problemas denunciados pela população não começaram agora, por outro lado tudo vem se agravando, sobretudo quanto à gestão dos colaboradores, que vivem tempos de penúria. Por outro lado, o rompimento tende a gerar uma fase difícil de transição, que deve sim interferir na vida de todo mundo que utiliza a saúde pública, por mais que a prefeitura tenha se preparado. Como não há volta para nada disso, fica a esperança de melhoria real na saúde pública, depois que tudo passar.
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