Tempos de solidão

 

Chama a atenção o grande número de pessoas que procuram um consultório de psicoterapia carregando as amarguras de uma vida solitária. 

Seja adolescente, a mulher beirando os 30 e no auge profissional ou aquela com mais de 50, já com os filhos criados, assim como o executivo entrando na meia-idade: todos sentem-se solitários! 

E o que mais espanta é que não importa se são casados ou solteiros, vivem efetivamente só ou não.  

Os solteiros e mais jovens atribuem à sua timidez ou falta de disposição dos outros a responsabilidade por sua solidão. A menina/mulher queixa-se das más intenções dos homens. 

Quem está no auge da vida profissional não encontra tempo para se disponibilizar aos encontros ou relações afetivas. 

Os de mais idade, que já não tem nem a timidez, a correria diária ou nem mesmo falta efetiva de um(a) companheiro(a) como desculpas, sentem um vazio insuportável, queixam-se de não encontrarem “eco” para suas palavras nem saberem como manter um diálogo verdadeiro com seus parceiros. 

A internet e suas diversas salas de bate-papo estão permanentemente lotadas por pessoas em busca de companhia, embora encontrem ali imagens virtuais desprovidas de toque, de rosto e de afeto. E muitos desses que estão “vivamente” batendo papo pela internet tem seus companheiros de carne e osso na sala ou no quarto ao lado também absolutamente sós! 

Muitos fatores concorrem para isto, mas a questão fundamental é a tal da individualidade! Muitas pessoas, na busca ansiosa por sua individualidade, enveredaram por um caminho paralelo, o individualismo. São coisas absolutamente diferentes. Enquanto o individualismo fecha-se em si mesmo, a individualidade traz em si o conceito de identidade, a própria e a do outro. Ser EU não significa excluir o outro, mas evitar que ele seja minha vida, permitindo, porém, que ele participe dela. 

Sem dúvida, é necessário aprender a ser indivíduo, mas também é indispensável aprender a ver o outro, a relacionar-se com ele em sua própria individualidade, sem deixar-se confundir com ele.  

O caminho para isso é um sentimento chamado empatia, uma capacidade nem sempre desenvolvida, que é a habilidade de estabelecer um diálogo verdadeiro entre semelhanças e diferenças que caracterizam a multiplicidade humana. Não é procurar a “outra metade da laranja”, uma vez que já se é uma laranja inteira. 

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp