Tempo para se conectar

Vivemos em uma era em que tudo parece urgente. São mensagens chegando a todo momento, prazos que se encurtam, tarefas que se multiplicam e uma sensação constante de que o dia tem menos horas do que precisamos. O corpo até segue o ritmo, mas a mente e o coração pedem uma pausa. E é justamente aí que entra a importância de reservar tempo para se conectar — não com o mundo digital, mas com o que há de mais humano dentro de nós.

Nos últimos anos, o diagnóstico de burnout — ou síndrome do esgotamento — tem aumentado de forma preocupante. E não é difícil entender o motivo: vivemos conectados o tempo todo, mas cada vez mais desconectados de nós mesmos. É como se estivéssemos sempre prontos a responder a tudo e a todos, menos às nossas próprias necessidades.

O burnout costuma surgir de forma silenciosa. Primeiro vem o cansaço, depois a falta de entusiasmo, o sono irregular, a irritabilidade, e, quando se percebe, a energia vital parece ter se esgotado. É o corpo e a mente pedindo socorro, gritando por algo que há muito deixamos de oferecer: tempo de pausa, de escuta e de reconexão.

Conectar-se não significa fugir das responsabilidades, mas reaprender a respirar entre elas. É parar para ouvir o som da chuva, tomar um café sem pressa, caminhar sem destino, conversar com alguém sem olhar o relógio. São gestos simples que resgatam nossa presença e nos devolvem ao eixo da vida real — aquela que pulsa fora das telas e dos compromissos.

Talvez o maior desafio do nosso tempo seja justamente esse: dar-se o direito de parar. Reconhecer que o descanso não é perda de tempo, mas recuperação de sentido. Que cuidar de si é um ato de coragem, não de egoísmo. Que reconectar-se com o que é essencial é o primeiro passo para continuar — com mais leveza, clareza e propósito.

Se o mundo está acelerado demais, talvez o verdadeiro progresso esteja em desacelerar. Porque é no silêncio, na pausa e na presença que reencontramos o que realmente importa.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp