Temas necessários

Quem assistiu aos desfiles das escolas de samba de São Paulo e Rio de Janeiro se deparou com vários temas necessários. São questões sociais e históricas que precisam ser abordadas não apenas no enredo de escolas de samba, mas pelo teatro e cinema, já que a arte é a melhor forma de tocar em feridas e pontos polêmicos e, com isso, fazer refletir. Os podcasts, por exemplo, tão na moda hoje em dia, dificilmente abordam tais temáticas e, quando o fazem, provavelmente não têm o mesmo alcance do que outros que tocam em assuntos mais corriqueiros e cômicos ou eventuais revelações pessoais. Na TV Cultura, só para citar outro exemplo, há programas mais reflexivos e filosóficos, mas o alcance também se torna reduzido na comparação com os jornais, programas de auditório, novelas e realitys. Enfim, o desfile carnavalesco é sempre uma boa opção para jogar luz para questões espinhosas. No Carnaval de São Paulo, os temas escolhidos foram desde justiça e religião, até as homenagens para Cazuza e Benito Di Paula, passando por contos de fadas da literatura mundial e pela resistência LGBT+, prevalecendo o afro. A campeã, Rosas de Ouro, levou sorte, mistério, adrenalina, estratégia e muita diversão para o desfile, abordando os jogos. No Rio de Janeiro, os enredos afros também dominaram os desfiles, mas com espaço para falar sobre proteção espiritual, assombrações do imaginário popular, viagem intergaláctica e o futuro da humanidade, a história de Xica Manicongo - considerada a primeira travesti do Brasil e, ainda, uma homenagem a Milton Nascimento. Muitas escolas aproveitaram bem a oportunidade e, no final de semana em que o Brasil celebrou seu primeiro Oscar, com o filme “Ainda Estou Aqui”, que defende a luta pelos direitos humanos e pela democracia, elas também mostraram ao público do mundo todo que há muito a ser contado, falado e discutido.
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