Tem que ser 100%
Já abordamos outras vezes o tema alfabetização. Não há soluções mágicas. Em artigo assinado no ano passado, a mestre em Psicologia da Educação Silvia Pereira de Carvalho também tratou desse tema e frisou que a alfabetização é um processo amplo que começa desde cedo no contato das crianças pequenas com a cultura escrita em seu cotidiano. Ela ressalta que, na educação infantil, é preciso oferecer acesso fácil e frequente a livros, estimular a leitura de histórias, realizar brincadeiras cantadas e práticas sociais nas quais as crianças ditam aos docentes ou escrevem por si mesmas bilhetes, listas de palavras que ajudem a lembrar tarefas, ingredientes de uma receita, brincadeiras preferidas, etc. “Tais ações, muitas vezes subestimadas, auxiliam não apenas na aquisição da linguagem, como também promovem compreensão e conexão emocional com diferentes conteúdos”, escreveu ela. Ela ainda lembrou que o atraso na alfabetização de uma criança resulta em danos socioemocionais, prejuízos na escolaridade como um todo, taxas mais altas de reprovação e tendência ao abandono escolar. “O comprometimento do processo de alfabetização tende a acompanhar toda a trajetória escolar desse estudante, refletindo mais tarde em piores condições de emprego e renda”, garante a pesquisadora. Silvia ainda cita a importância do investimento na formação inicial e continuada do docente, “que conceba crianças e adolescentes como pessoas que produzem conhecimento, que pensam e que por isso têm decisões a tomar.” Felizmente, regionalmente, temos a comemorar o fato de os índices de alfabetização estarem na faixa de 95%, porém temos que tomar cuidado porque, em números absolutos, esse percentual pode ainda representar número significativo e preocupante, de pessoas sem condições de ler ou interpretar um texto simples. Menos de 100% não basta.
Autor