Tecnologia que salva vidas

A tecnologia tem avançado em uma velocidade impressionante, e entre tantas inovações, uma das mais promissoras é aquela voltada para a prevenção do suicídio. Nas últimas décadas, pesquisadores do mundo todo têm buscado formas de identificar o risco de maneira mais precoce, precisa e personalizada, reconhecendo que o sofrimento psíquico deixa marcas mensuráveis no corpo, no comportamento e nas emoções. Nesse cenário, surgem ferramentas capazes de transformar dados dispersos em informação clínica relevante, auxiliando profissionais de saúde e oferecendo novas possibilidades de cuidado.

Hoje, já existem sistemas que analisam padrões linguísticos em mensagens de texto, redes sociais e conversas gravadas, identificando sinais sutis de desesperança, impulsividade e mudanças emocionais antes mesmo de a pessoa verbalizar um pedido de ajuda. A inteligência artificial consegue perceber nuances que muitas vezes passam despercebidas, como alteração no ritmo da fala, escolhas de palavras associadas a sofrimento, variações no padrão de sono, retraimento e mudanças bruscas de humor. Esses indicadores, quando integrados, constroem um panorama mais fiel do estado emocional da pessoa, orientando intervenções precoces.

Mas talvez uma das inovações mais impactantes sejam as pulseiras inteligentes desenvolvidas para monitoramento contínuo de parâmetros fisiológicos relacionados ao risco de suicídio. Esses dispositivos conseguem correlacionar dados como frequência cardíaca, variabilidade cardíaca, padrão de sono, níveis de estresse fisiológico, alterações comportamentais, histórico de transtorno mental e fatores de risco individuais. A partir dessa integração de informações, algoritmos avançados conseguem predizer um possível episódio de risco com até seis meses de antecedência. Isso significa que, ao identificar a combinação de indicadores que historicamente precedem uma crise grave, a tecnologia pode emitir alertas para equipes de saúde, familiares autorizados ou para a própria pessoa, possibilitando intervenções que salvam vidas muito antes do ponto de ruptura.

Essa previsão não substitui o cuidado humano, mas o complementa. Profissionais de saúde mental continuam sendo o centro do processo de acolhimento, escuta e tratamento. A combinação entre escuta qualificada, vínculo terapêutico e monitoramento inteligente fortalece a prevenção e aumenta a segurança de quem vive com sofrimento emocional intenso. E se salvar vidas é o propósito maior, cada avanço nessa área representa não apenas progresso científico, mas um gesto de profundo cuidado com o ser humano.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp