Surpresa ingênua
Apostar é tão antigo quanto a civilização humana. Existem inúmeros registros de jogos e brincadeiras desde os tempos em que o ser humano começou a se agrupar. Apostavam-se alimentos, animais, armas e até casas. Os dados hexagonais foram inventados no antigo Egito, há 5000 anos. As moedas surgiram há 2700 anos na Turquia. O “cara ou coroa” deve ter surgido junto com as primeiras moedas. A Bíblia possui algumas passagens que falam sobre apostas, como a dos guardas romanos que apostaram entre si para saber quem ficaria com as peças de Jesus após a Crucificação. Isso tem sido usado através dos séculos por pessoas que são contra as apostas.
O baralho é mais jovem. Surgiu na China há 1700 anos. O formato atual, com 52 cartas, foi introduzido na Europa pelos árabes, há 800 anos. A roleta, um jogo francês bem antigo, foi introduzida nos cassinos em 1790 na cidade de Paris. Moedas inspiraram a criação dos caça-níqueis no final do século 19, nos Estados Unidos. Juntos, baralho, roleta, dados e moedas, formam a base dos cassinos.
Cassino vem da palavra italiana “casino” que significa “pequena casa”. O primeiro, legalizado, foi criado em 1638 na cidade de Veneza. O de Monte Carlo (Mônaco) e os de Las Vegas (EUA), existem há mais de 100 anos. No Brasil, os mais famosos eram o da Urca, o Atlântico e o do Copacabana Palace, todos no Rio de Janeiro. Neles, passaram figuras como Frank Sinatra, Walt Disney e Albert Einstein. Foram proibidos em 1946 pelo presidente Dutra, com a alegação de que feria a moral e os bons costumes.
O Jogo do Bicho foi criado pelo Barão de Drummond em 1892, para arrecadar fundos para o zoológico do Rio de Janeiro. Fez tanto sucesso que assumiu um caráter comercial diferente do original. As apostas são registradas num pedaço de papel emitido pelos cambistas do jogo e existe o ditado “vale o que está escrito”, ou seja, o papel serve como fiança para receber o prêmio da aposta.
Cassinos são proibidos no Brasil, mas existem estimados oito milhões de brasileiros inscritos em cassinos virtuais, cujas sedes encontram-se no exterior, fora do alcance das leis brasileiras. São mais de 500 páginas eletrônicas ligadas às apostas no futebol. As cifras envolvidas atingem cinco bilhões de reais por ano. Uma quantia considerável. A falta de leis, de fiscalização e de punição aos culpados transformam a fabricação de resultados num grande negócio. Pior, virou “terra de ninguém”. Cada um faz do jeito que quiser. Não me surpreendo com a grande quantidade de assédios a jogadores e dirigentes. Os que resistem, apesar de cumprirem com sua obrigação profissional e moral, podem ser considerados heróis. Causa-me espanto que ainda tenha quem se surpreenda com os escândalos. Futebol envolve muito dinheiro. Onde tem queijo, sempre aparecem os ratos!
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