Spinoza - Ruptura com a Fantasia
Baruch Spinoza, um dos grandes pensadores do Iluminismo, promoveu uma ruptura radical com as fantasias que, historicamente, sustentaram as concepções religiosas de divindade. Seu pensamento representa uma verdadeira revolução filosófica, ao recusar a ideia de um Deus antropomórfico, interventor e moralista — figura central nas principais religiões do mundo.
Frequentemente se fala no "Deus de Spinoza", termo que acabou ganhando popularidade — muitas vezes de maneira equivocada. Até mesmo Albert Einstein declarou certa vez que seu Deus era "o Deus de Spinoza", numa tentativa de conciliar ciência e espiritualidade. No entanto, é incorreto comparar o conceito spinozista com qualquer divindade pessoal ou consciente como as apresentadas nas religiões. Spinoza jamais concebeu Deus como um ser que cria o mundo deliberadamente, julga as ações humanas, responde preces ou realiza milagres.
Para Spinoza, Deus é a Natureza (Deus sive Natura). Não se trata de uma entidade separada do mundo, mas da própria substância infinita que se manifesta em tudo o que existe. Deus não é um criador fora da criação; Ele é a criação, é o todo, é a realidade em sua totalidade. Não há distinção entre o divino e o natural. Essa visão leva à inevitável conclusão — do ponto de vista das religiões tradicionais — de que Spinoza seria um ateu, pois nega qualquer Deus com atributos humanos ou propósito moral.
Sob essa ótica, conhecer "Deus" seria o mesmo que conhecer as leis naturais — as causas e efeitos que regem o universo: gravidade, matéria, energia, as interações fundamentais, e todas as formas de manifestação da realidade. A busca por compreender o mundo, para Spinoza, é uma forma de reverência à própria existência. É o conhecimento racional, e não a fé, que nos aproxima da essência do real.
O ser humano, no entanto, diante do mistério da existência, da dor, da morte, da finitude e da impotência frente aos grandes eventos da vida, tende a buscar conforto. A ideia de um “pai celestial”, que cuida, protege e dá sentido, é mais reconfortante do que a aceitação da realidade impessoal e indiferente. Mas isso pode ser visto como uma renúncia à honestidade intelectual em favor da segurança emocional.
A fé, nesse contexto, surge como uma ferramenta psicológica poderosa. Ela permite sustentar uma visão do mundo que não depende de evidência ou razão. A fé, dizem, é inabalável. Mas Spinoza talvez perguntasse: será isso uma virtude ou apenas uma recusa em conhecer?
Dentro de toda esta ótica, seria incoerente buscar revelações, fazer pedidos, orações, buscar contato, fazer louvores, criar religiões e líderes dogmatizados, pois assim não age a natureza. Ou a raça humana procura o desenvolvimento filosófico, moral, ético, gregário/fraterno dentro de sua própria natureza, por inteligência e desenvolvimento espiritual próprios, ou vai ficar sempre "amassando o barro" em termos de estagnação, como vemos os acontecimentos ao longo dos anos nos mostrados pela história da civilização.
Roberto Barbieri
Articulista de Passos/MG
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