Spes Messis in Semine (Axé, Filhos da Lua!)

 

Dentre os graves problemas da sociedade brasileira, um dos mais sensíveis é a situação de desamparo de grande parcela de crianças e adolescentes. Eles, que merecem ser felizes, e que são a possibilidade de uma sociedade mais harmoniosa, têm sido as primeiras vítimas do egocentrismo e materialismo que ainda caracteriza  nosso modo de viver.  

Mas isso está mudando, e cada vez mais estamos nos tornando capazes de sentir a dor do outro, de reconhecer nossa responsabilidade pela felicidade alheia, e de tomar a decisão de fazer algo a respeito. E é por isso - porque estamos mudando internamente - que temos a justa esperança de que o mundo irá se tornar, como consequência de nossas atitudes, um mundo melhor para todos.  

Nesse contexto de construção de uma nova ordem social em que o cuidado com as crianças e os adolescentes sejam efetivamente prioridades, estamos propondo para Catanduva uma ação que se revelou poderosa e profícua em outras cidades da região, como Pindorama, Paraíso, Embaúba e Novais: o investimento na formação de grupos de Capoeira!  

Sim. Considerada um dos maiores símbolos da cultura brasileira, e criada no século XVII como manifestação da luta dos negros pela liberdade, a Capoeira tem sido instrumento de ação social relevante ao proporcionar, especialmente para crianças, adolescentes e jovens da região, a prática de atividade física que traz consigo valores tão relevantes como disciplina, sentimento de pertencimento a um grupo, fraternidade, espírito de equipe, perseverança, saúde, respeito e inclusão.  

A Capoeira é, ao mesmo tempo, atividade física e manifestação de arte (dança, música) e cultura (história). É arte marcial desenvolvida no Brasil inicialmente como técnica de defesa, por pessoas escravizadas oriundas da África. É também, se abraçada e respeitada pela sociedade como um todo, a possibilidade de redenção e gratidão para com a cultura afro-brasileira.  

Mas ainda é mais do que isso. Existe uma profunda sintonia e identidade do povo com a Capoeira, e uma vez que a criança, o adolescente e o jovem começam a praticá-la, novos caminhos se abrem para eles, dificultando que sejam vítimas das terríveis armadilhas criadas pela falta de perspectivas, especialmente em comunidades mais carentes. Os valores trazidos pela prática ensejam bons pensamentos e bons sentimentos, e nesse contexto pode ser semeada a verdadeira cidadania.  

Em breve, quem sabe com o apoio da Administração do Município de Catanduva e de empresas com maior sensibilidade social, teremos centenas de crianças e adolescentes jogando Capoeira em nossa cidade, e isso será realizado sob a tutela do Mestre João Parafuso e sob a responsabilidade da organização social denominada “Filhos da Lua”, do grande amigo (de todos) Paulo Ferro. Entre as consequências imediatas teremos menos violência, menos crianças e adolescentes vítimas de cooptação pelo tráfico de drogas, e estaremos semeando neles um futuro melhor para todos.  

Afinal, a esperança da colheita reside na semente (Spes Messis in Semine). Axé, Filhos da Lua! 

 

Autor

Wagner Ramos de Quadros
É presidente da ARCOS e articulista de O Regional.