Somos todos sobreviventes
Se individualmente sofremos todas essas consequências, no coletivo, não foi diferente. Ainda estamos juntando os cacos dessa bagunça toda e tentando buscar um equilíbrio novamente em todas as áreas. E isso não é um problema só do Brasil, essa instabilidade é visível em todo o mundo. Tudo isso me veio à mente quando li um artigo que fazia uma interpretação positiva dos nossos índices econômicos, levando em consideração esse cenário adverso que vivemos.
Fiquei tocado com aquilo e senti a necessidade de dividir a reflexão que fiz de pronto sobre o momento econômico brasileiro atual. Sem paixões e nem otimismo exacerbado. Procuro me informar por diversas fontes, justamente para observar a pluralidade de ideias, mas recentemente tem me dado desânimo ao ler alguns artigos e reportagens que sugerem que o Brasil foi “destruído” e que a economia está “em ruínas”.
Como já mencionei anteriormente, levando em consideração que estamos em época de retomada após um grande trauma, vi com bons olhos o último boletim do Banco Central, que hoje é independente do governo, que prevê que a inflação vai fechar 2022, em 7,3%. Não é o ideal, mas é bem menos do que se imaginava no início do ano e do que foi em 2021. A se confirmarem as estimativas do Banco Central, o Brasil pode ter uma taxa de inflação menor do que grandes potências mundiais como os Estados Unidos, que já acumula até este mês 8,5%.
Os preços dos combustíveis acabam de cair novamente após a redução de importantes impostos estaduais sobre a gasolina, etanol e diesel. O PIB brasileiro, pelos cálculos mais recentes, foi revisto para cima e deve subir 2% este ano. Para um ano pós-pandemia não é nada mal.
Os índices de desemprego, pela primeira vez depois de seis anos, saíram dos dois dígitos. A última cifra é de 9,8%, menor do que era quando começou a pandemia. Neste ano, só de janeiro a abril, foram criados mais de 1 milhão de empregos com carteira assinada; em maio, o total de brasileiros com emprego formal estava próximo aos 42 milhões, um recorde na história do cadastro do Ministério do Trabalho, iniciado dez anos atrás. No total, com covid e tudo, temos saldo positivo acima de 2 milhões de vagas.
No comércio exterior, nos últimos 12 meses, o Brasil exportou quase US$ 310 bilhões, e teve um saldo próximo aos 60 bilhões na sua balança comercial. A produção agrícola, em especial, vai bater um novo recorde em 2022.
A análise desses índices todos me fez lembrar a velha história do copo: quem é pessimista enxerga o copo sempre meio vazio, perdendo energia para tentar enchê-lo. Quem é otimista enxerga sempre meio cheio – o que também não é bom, pois pode gerar estagnação e criar ilusões de sucesso. Já o realista entende que o copo está sempre na metade. Procuro com esse texto ser realista para que tenhamos a esperança de, em breve, vermos o copo cheio. No final das contas, o equilíbrio é sempre a melhor saída. Já sofremos tanto com as incertezas da pandemia e suas consequências. Vamos valorizar o esforço de quem encheu o copo até a metade e nos unirmos para vê-lo completo.
E só conseguiremos completá-lo se dermos atenção absoluta ao legado mais cruel da pandemia, que foi o aumento da pobreza. Para combatê-lo penso que a única receita é a união da sociedade e do governo para desenvolvermos o país. Se cada um fizer a sua parte, priorizando o coletivo e olhando com cuidado para as causas sociais, de gota em gota, vamos encher o copo.
Maurilio Biagi Filho
Empresário e presidente do Conselho de Administração da Maubisa
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