Sobre Reis e Reizinhos

Dos países filiados à ONU, 44 são monarquias. São 33 reinos, 3 principados, 3 emirados, 2 sultanatos, 1 império, 1 grão-ducado e 1 papado. Para minha surpresa, descobri que tecnicamente o Vaticano é uma monarquia onde o Papa é considerado um rei ou chefe de estado. A mais antiga é a do Japão, quase 2.700 anos. A maior e mais populosa é a da Inglaterra que congrega 33 países que consideram O rei da Inglaterra como sendo seu chefe de estado e possuem como chefe de governo um primeiro ministro nativo.

Pesquisei o assunto pois nas últimas semanas por conta de doenças, a monarquia inglêsa, foi notícia no mundo todo. Por conta dos holofotes e dos gastos, nestas ocasiões costuma-se debater a legitimidade das monarquias. Li que há muito se discute este tema. Platão, em seu clássico “A república” discorre sobre a figura do rei filósofo, uma pessoa virtuosa que seria moldada para governar e fazer o bem com uma formação sólida em educação e ciência. Quem dera... Platão não conseguiu implantar sua utopia e morreu escravo em Siracusa.

Por outro lado, os céticos ranzinzas alegam que a monarquia é uma frivolidade e que não dá para levar a sério alguém cujo único mérito foi nascer num berço de ouro, conquistado à base de porradas e que tem hoje em dia um papel apenas decorativo.

Por estas bandas, as coisas foram diferentes. Éramos a única monarquia da América enquanto o restante era república e somos um dos raros países do mundo onde o fim da monarquia não resultou num banho de sangue. Curioso é que os bisnetos da princesa Isabel disputam entre si o título de imperador do Brasil. Vai que um dia a república acaba...

A plebe brasileira encara a realeza de modo mais simples e direto. Não precisa ter sangue azul para ser coroado. Pelé é o rei do futebol. Hortência, a rainha do basquete. Francisco Alves, o rei da voz. A MPB tem o rei Roberto Carlos. Gretchen é a rainha do rebolado. Xuxa é a rainha dos baixinhos. Oscarito foi o rei da chanchada. Todos os anos, elege-se o rei momo e a rainha do carnaval. Toda festa do peão tem a rainha do rodeio assim como no Sul escolhe-se a rainha da festa da uva.

Na culinária temos o rei da feijoada, da esfirra, da paçoca e de tudo o que te faça sentir-se um rei. Ditados e expressões populares sobre a realeza são mais de 10. Alguns existem há séculos. “O rei da cocada preta” tinha a ver com o hábito de D. João VI comer cocadas frescas antes de todo mundo. “Rei morto, rei posto” tem a ver com troca de reis. “Quem é rei, não perde a majestade” tem a ver com quem não perde a dignidade mesmo fora do cargo. Só que no Brasil costuma-se ficar para sempre nos cargos. Ao sair, tenta-se manter os privilégios da boquinha. Não desapegam. Triste. O Brasil dá conta de furar até com ditados populares!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.