Símbolos da Revolução Constitucionalista de 1932 em Catanduva

Na próxima terça-feira, dia 09 de julho, comemoramos, no Estado de São Paulo, a Revolução Constitucionalista de 1932, um levante armado de São Paulo contra o governo autoritário de Getúlio Vargas. Durou de julho a outubro de 1932 e buscava derrubar Vargas, exigindo uma nova Constituição. Apesar da derrota militar dos paulistas, o movimento destacou as tensões entre estados e governo central, fortaleceu a identidade paulista e pressionou pela convocação de uma Assembleia Constituinte, resultando na Constituição de 1934. Catanduva teve um papel de destaque no movimento e ainda conta com inúmeros monumentos referentes ao conflito.

Soldado Constitucionalista

Percebendo a participação da cidade de Catanduva na Revolução de 1932, logo após o conflito, teve-se a ideia de criar algo que trouxesse à lembrança do acontecido para as gerações futuras.

Diante disso, um primeiro pensamento que ocorreu foi o de prestar homenagem à dois catanduvenses que morreram durante o conflito: Antônio Ortega de Haro e Josué Grande. Para isso, Padre Albino teve a ideia de construir um orfanato para abrigar meninas sem família, contando com o apoio que sempre teve da população de Catanduva. Quando tal orfanato estivesse pronto, este levaria o nome dos dois soldados catanduvenses, que, posteriormente, ficou conhecido como “Lar Ortega-Josué”.

Porém, no ano de 1948, as obras passaram às mãos da Associação das Damas de Caridade, que além de dar continuidade às obras, resolveu homenagear os dois catanduvenses que davam nome ao estabelecimento, mandando construir em cima de seus túmulos uma estátua em homenagem à todos aqueles que de alguma forma contribuíram para o movimento de 1932. A estátua do soldado constitucionalista, de autoria do escultor Oscar Valzacchi foi inaugurada no dia 09 de julho de 1952, em data comemorativa aos vinte anos da revolução. A obra se encontra no Cemitério Nossa Senhora do Carmo.

Praça 09 de Julho

Um dos pontos de grande destaque no que diz respeito à memória da Revolução Constitucionalista é a Praça 09 de Julho, que além do nome, contém dois grandes monumentos ligados à causa: a figura de um soldado constitucionalista e o painel “A Despedida”.

De acordo com a lei Nº 10, de 03 de junho de 1918, que nomeava as primeiras ruas e praças de nossa cidade, ficou estabelecido que “o largo do jardim passaria a ser chamado de Praça da República, o largo acima da linha do trem como Praça da Independência e o largo da Igreja como Praça São Domingos”. 

Foi somente no ano de 1934, em comemoração aos dois anos do combate constitucionalista, que a praça teve seu nome modificado para o nome atual, ou seja, “09 de Julho”.

A partir desta data, a placa foi colocada na esquina das ruas Minas Gerais com a Brasil e as duas quadras (que hoje correspondem à Praça Monsenhor Albino e a Praça 09 de Julho) passaram a serem chamadas de Praça 09 de Julho, em homenagem aos heróis de 1932. A mudança do nome da praça onde está localizada a Igreja Matriz de São Domingos apenas aconteceu no ano de 1973, quando esta passou a possuir a nomenclatura de Praça Monsenhor Albino.

Soldado Constitucionalista da Praça 09 de Julho

Na citada praça, existe outra estátua do soldado constitucionalista, de autoria do mesmo escultor daquela que está localizada no cemitério, ou seja, Oscar Valzacchi. A estátua foi produzida na primeira administração do prefeito José Antônio Borelli (1956- 1959), precisando ser restaurada em 1959 por consequência da danificação do fuzil do soldado.

Por algum tempo a estátua ficou abandonada, não recebendo os devidos cuidados pela municipalidade.

Após passar por reformas e cuidados, o monumento foi reinaugurado em 09 de julho de 1972, em comemoração aos quarenta anos do conflito, sob a administração do prefeito João Righini, em solenidade que reuniu diversas autoridades locais. 

No ano de 2003, a estátua passou por uma pequena restauração por estar inserida dentro do “Projeto Cidadania” realizada pelo Colégio São Mateus.

Em dezembro de 2014, foi entregue pelo ex-prefeito Geraldo Vinholi a revitalização do Altar da Pátria, onde o soldado foi tirado de seu antigo lugar e colocado ao lado do painel “A Despedida”, local que se encontra até os dias de hoje.

Painel “A Despedida”

Em 1982, ano em que a revolução completava seus cinquenta anos, vários foram os eventos relacionados à causa.

Neste ano, a Praça 09 de Julho passava por uma grande reforma, e dentre os feitos do local estava a construção de um enorme painel que estava sendo feito em homenagem aos constitucionalistas.

O projeto contou com a organização do arquiteto Paulo R. Pinotti, com desenho de Luiz Antônio Malheiros, cabendo a execução à Adelício Nespolon. Vale lembrar que a ideia das figuras colocadas no local foi de autoria do saudoso professor Brasil Procópio de Oliveira.

De acordo com o professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, em uma de suas pesquisas descreve: “(...) os desenhos dos painéis representam voluntários com seus uniformes atendendo o chamado do corneteiro e para isso despendiam-se de suas namoradas, esposas, filhas e amigos; a bandeira das ‘treze listras’ ia sempre a frente, enquanto isso, no prédio escolar, o padre incentivava os jovens, no momento em que jovens e senhoras ficavam na retaguarda com a confecção de roupas e incentivos através do batalhão feminino ‘Estrela do Sul’”.

Capacete do Soldado

Outro objeto ligado à causa constitucionalista pode ser encontrado dentro do plenário da Câmara Municipal de Catanduva: um capacete que foi doado pelo Dr. Cristóvão Fernandes, portador de um autêntico capacete de aço presenteado pelo M.M.D.C. paulista e que foi introduzido dentro de um nicho, tendo ao fundo a bandeira paulista.

A cerimônia de instalação se deu no dia 14 de abril de 1982, em um dos eventos da comemoração do cinquentenário da revolução.

No mesmo dia, foram entregues diplomas de mérito cívico a todos aqueles que participaram da luta, sendo representados por parentes aqueles que já haviam morrido. O presidente da câmara na época era o vereador Gerson José de Camargo Gabas.

Além do capacete, existe ainda uma placa, onde está inscrita a seguinte frase de autoria de Tobias Barreto: “Quando se sente no peito heroica pancada, deixa-se a página dobrada, enquanto se vai morrer”.

Destaco ainda que tanto o Centro Cultural e Histórico Padre Albino, como o Museu Municipal de Catanduva, contam com inúmeros objetos ligados à revolução, como munições, fotos antigas, moedas da campanha “Ouro para o bem de São Paulo”, entre outros.

Fonte de Pesquisa:

- Acervo do Centro Histórico e Cultural Padre Albino

Fotos

Soldado Constitucionalista no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, erigido em cima do túmulo de Antônio Ortega de Haro e Josué Grande, mortos durante o conflito de 1932

Painel “A Despedida”, inaugurado no ano de 1982, em comemoração ao cinquentenário da Revolução de 1932. O projeto contou com a organização do arquiteto Paulo R. Pinotti, com desenho de Luiz Antônio Malheiros, cabendo a execução à Adelício Nespolon

Um dos locais mais marcantes e simbólicos de nossa cidade relacionado à Revolução de 1932 é a Praça 09 de Julho, que além do próprio nome, ainda abriga o painel “A Despedida” e a estátua do soldado constitucionalista (foto)

Foto atual do local onde se encontra o capacete de aço dentro do plenário da Câmara Municipal de Catanduva. O nicho e a placa antiga foram substituídos, mantendo o desenho da bandeira paulista dentro do nicho

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.