Shangrila, um paraíso que ainda não encontramos dentro de nós
“Se quiseres poder suportar a vida,
fica pronto para aceitar a morte.”
Sigmund Freud
Shangrila da criação literária do inglês James Hilton em “Horizonte Perdido” de 1933 é descrito como um lugar paradisíaco situado nas montanhas do Himalaia, sede de panoramas maravilhosos e onde o tempo parece deter-se como ambiente de felicidade e saúde numa convivência harmoniosa entre pessoas das mais variadas procedências e que é sentida pelos visitantes como promessa de um mundo possível em que alguns escolhem morar. Curiosamente para outros é tido como um lugar assustador e opressivo do qual muitos resolvem fugir. No mundo ocidental, Shangrila é entendido como um paraíso terrestre oculto.
Delirar num certo sentido não é uma prerrogativa apenas dos psicóticos. Se levarmos em conta a função eminentemente terapêutica do delírio enquanto possibilita uma saída diante do sem-sentido, podemos dizer com segurança que todos deliram até encontrar correspondência diante da experiência ainda sem sentido existencial. Sofrendo o suficiente para não sofrer o insuportável, a vida nos oferece experiências que enquanto não processadas, nos sentimos ofuscados pela paisagem enquanto não encontramos algo que nos capacite a ponto de desfrutar mesmo estando no terror.
Entre o delírio psicótico e as inevitáveis construções que constatamos estar diante de determinadas experiências a fim de enfrentá-las da maneira menos dolorosa, as fantasias assim como os delírios produzem um sofrimento suportável, um remédio para um sofrimento insuportável onde o ponto de vista diante das situações que se vivencia é o ponto que a fantasia proporciona uma solidez imaginária a fim de evitar o retorno da experiência angustiante e incompreensível.
Shangrila pode ser entendido por nós como aquelas vivencias que enquanto vivemos temos ideia que vamos sentir saudades depois, ou que ao experienciarmos pode representar uma defesa que se instala no reino da ausência no luto, negando a mortalidade num paraíso que nega a dor, o adeus, a saudades, uma época e um tempo, vivendo na imortalidade, no encontro e na plenitude, onde o ego ainda aprecia os ideais.
Neste sentido, devemos buscar dentro de nós as condições afetivas para que possamos nos permitir experimentar o incompreensível, sentindo-nos seguros para dar ao vazio e a dor um sentido e um nome.
Música “Shangrila” de Rita Lee e Roberto de Carvalho.
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