A gratidão é um sentimento difícil de ser identificado e compreendido em nós mesmos. Mesmo sendo baseado em sentimentos amorosos e elevados é facilmente confundido por muitas vezes estar ligado a retribuição e não a gratuidade.

O indivíduo grato é aquele que conseguiu desenvolver sua capacidade de amar porque sua relação inicial com sua mãe/cuidador foi satisfatória, ausente de grandes atropelos e interrupções, tendo ele uma mãe/cuidador que desempenhou o seu papel principalmente nos primeiros anos de vida, de maneira a ele ter um modelo introjetado que seja capaz de desenvolver bons sentimentos.

Melanie Klein foi uma importante psicanalista contemporânea de Freud que dizia que um dos principais derivados da capacidade de amar é o sentimento de gratidão. É o fundamento da apreciação do objeto bom nos outros e em si mesmo. O bebê só pode aprender a ser grato se sua capacidade de amar for suficientemente desenvolvida numa relação inicial satisfatória, desenvolvendo nele bons sentimentos.

Quando isto não acontece, diversos sentimentos ficam à deriva, e antes que eles caiam no “esquecimento” - impossível que seja assim - eles são dirigidos de forma destrutiva a outros modelos correspondentes por meio da identificação projetiva, um mecanismo de defesa onde o indivíduo alvo da projeção passa a se comportar, pensar e sentir de acordo com o aquilo que foi projetado nele.

Ter um mundo interno repleto de sentimentos e objetos bons, ajuda o bebê a se sentir correspondido no amor, desenvolvendo nele

sentimentos bons e afetuosos, base que irá permear todos os vínculos estabelecidos ao longo de sua vida, sendo a gratidão, a resposta ao grande vínculo estabelecido desde o nascimento.

Sermos gratos, é antes de tudo estarmos vinculados ao amor que nos foi ofertado desde o nascimento, este que será capaz de sustentar o nosso caminho.

Em tempo, este texto foi escrito ao som da música: “Baby” com Gal Costa.