Será que vale a pena?

 

A palavra “amor” é uma das mais complicadas do idioma português. Ela tem múltiplos significados. No idioma da Grécia antiga, para cada um destes significados, tinha uma palavra específica. Segundo a cultura grega, as três principais manifestações de amor estarão presentes na vida da maioria das pessoas.

Nosso primeiro amor, quando ainda mal sabemos andar ou mesmo falar, é com os membros da família. Nossos pais, irmãos, avós, tios, primos. São laços de sangue e responsáveis por boa parte das lembranças da infância. Vivem com você as mesmas sensações que deixarão marcas indeléveis em nossa memória (sabores, odores e tudo o mais que é captado pelos nossos sentidos). O amor à família, em grego, é representado pela palavra “filiae”.

Quando atingimos a adolescência, começamos a sentir atração física por outra pessoa. Surgem então as paqueras, as paixões e os relacionamentos. O amor carnal, em grego, é representado pela palavra “eros”.

Mas a maior parte dos relacionamentos é com nossos amigos. Eles viverão com você sua infância como se fossem seus irmãos. São os vizinhos e os da escola. Depois, os da faculdade. Alguns te acompanham durante toda a sua vida ou pelo menos na maior parte dela. Tem os amigos do trabalho, os que você adquire do círculo de amizades do seu cônjuge, na igreja, nas associações que fará parte, nos clubes recreativos, os pais dos amigos dos seus filhos, etc. Com todos eles você encontrará afinidades, criará vínculos, viverá muitas situações juntos. Tem amizades que sobrevivem ao tempo e à distância. O amor fraternal, entre amigos, afetuoso, igualitário, como enunciado pelo filósofo Platão na antiga Grécia, é representado pela palavra “ágape”.

Lembrei-me disso tudo porque em tempos de eleições, quase rompi uma amizade com um querido amigo por causa de uma discussão que infelizmente se tornou acalorada. Não lembro direito o motivo. Nem ele. Sei que era relacionado a um candidato. O fato é que quase uma amizade fraterna foi embora por causa de bobagens. Não tenho mais disposição para conflitos. Eu cheguei a um ponto da minha vida em que valorizo demais a convivência com as pessoas. O argumento típico de políticos inseguros de que as pessoas têm que se posicionar, como se isso fosse uma obrigação de todos os cidadãos, ignora que a grande maioria da população não está nem aí com a política. O político tem que tomar posição. Uma pessoa comum, não. As pessoas só querem viver em paz. Sabem que independente dos políticos, vão ter que acordar cedo do mesmo jeito e trabalhar duro porque nada cai do céu.

Não importa quem seja o causador das polêmicas ou quem supostamente é o dono da verdade. O fim de quem passa tempo demais nas redes sociais é ficar conversando com chatbots (robôs de internet) e algoritmos. Brigar não vale a pena!

 

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.