Sepultaram a praça!

Ao deparar-me com a nova Praça da República, não pude conter minha reação. Não desejo transformar este espaço em um muro das lamentações, mas é difícil expressar com palavras a minha sensação ao presenciar aquela situação. Por mais que eu utilize todas as palavras, nenhuma seria capaz de traduzir completamente minha perplexidade diante dessa reforma. Recordo-me, então, da inauguração do novo banheiro público municipal, que possuía até uma fachada imponente com letras garrafais. Ainda bem que tiraram o faraônico letreiro! No entanto, ao focar na praça em questão, perdoem-me, mas não é mais a mesma praça.

A Praça da República, mesmo com a presença dos pombos, sempre foi um espaço arborizado, um refúgio acolhedor, que agora se apresenta frio e desprovido de árvores. Não adianta argumentarem que as árvores estavam condenadas ou que essa medida visa resolver o problema das fezes dos pombos. Com todo respeito ao projetista, mais uma vez, foi possível presenciar a destruição de uma parte da nossa história.

A preservação da essência histórica é fundamental para que os locais mantenham sua autenticidade e sejam apreciados pelos cidadãos e visitantes. Ao reformar um espaço público, é imprescindível considerar sua história, sua importância cultural e a relação afetiva que a população tem com o local. A Praça da República sempre foi um refúgio verde em meio à cidade. Sua transformação radical, sem a devida preservação da sua identidade, acarreta uma perda significativa para todos que ali, de um jeito ou de outro, passam por ela.

Ok, precisa modernizar, não podemos ser saudosistas. A Praça da Matriz e a 9 de Julho também foram revitalizadas, mas sem perder a sua essência. Nessas transformações, foi possível preservar a história e os elementos que as tornavam únicas. É possível modernizar sem abrir mão da identidade que um espaço carrega consigo. É fundamental ressaltar a importância de se manter árvores e áreas arborizadas em nossos espaços urbanos, especialmente diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas. As árvores desempenham papel crucial na mitigação dos impactos ambientais e na criação de ambientes mais saudáveis e sustentáveis.

No contexto atual, em que somos confrontados com problemas como o aumento da temperatura, a poluição do ar e a perda da biodiversidade, a presença de áreas verdes se torna ainda mais relevante. As árvores atuam como verdadeiros “guardiões” do meio ambiente, fornecendo sombra, reduzindo a temperatura local, absorvendo dióxido de carbono e outros poluentes, e liberando oxigênio essencial para a qualidade do ar que respiramos. Além disso, as áreas arborizadas têm o poder de criar microclimas mais amigáveis, oferecendo refúgio do calor intenso e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Elas também desempenham um papel crucial na absorção da água da chuva.

As mudanças climáticas são uma realidade inegável e exigem ações concretas para minimizar seus efeitos. A inclusão de árvores em espaços públicos é uma estratégia eficiente e comprovada para enfrentar esses desafios. Por isso, ao revitalizar uma praça ou qualquer outro espaço urbano, se faz necessário considerar a manutenção de áreas arborizadas, respeitando a importância desses elementos para o equilíbrio ecológico e o bem-estar da comunidade.

A preservação das árvores existentes devem ser prioridades em qualquer projeto de renovação urbana. É necessário um cuidado especial para garantir que essas árvores sejam devidamente planejadas e mantidas, para que possam desempenhar seu papel na adaptação às mudanças climáticas e na promoção de uma cidade mais verde e resiliente.

Portanto, ao repensar e transformar nossos espaços públicos, é imprescindível lembrar-se da importância das áreas arborizadas, reconhecendo-as como investimentos valiosos para o presente e o futuro das nossas cidades. A preservação de nossa história, a modernização consciente e a preocupação com o meio ambiente devem caminhar juntas, assegurando que as gerações futuras também possam desfrutar de espaços públicos harmoniosos, acolhedores e sustentáveis.

Autor

Julinho Ramos
Ex-vereador de Catanduva e especialista em Gestão e Controle de Processos na Administração Pública