Semana Nacional do Livro e da Biblioteca
Celebramos, de 23 a 29 de outubro, a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, em um Brasil com pouco hábito de leitura e ainda inundado pelo desafio das redes sociais. A biblioteca, como espaço de estudo organizado e diálogo intelectual, pode ser interpretada à luz da teoria de Jürgen Habermas. Em "Mudança Estrutural da Esfera Pública" (1962), o filósofo destacou que a prensa de Gutenberg impulsionou a circulação de informações e o debate moderno. Hoje, os ventos da era digital representam um novo desafio, exigindo que várias instituições, a exemplo das bibliotecas, estimulem o conhecimento crítico e democrático.
Nesse cenário, o frankfurtiano distingue a razão comunicativa, aberta ao entendimento mútuo, da razão instrumental, robotizada. Em "Uma Nova Mudança Estrutural da Esfera Pública e a Política Deliberativa" (2022), Habermas diz que há o risco dessa instrumentalização nas mídias digitais, pois a infinita expansão quantitativa de dados não garante o saber.
Esse excesso gera uma verdadeira tempestade informacional, um dilúvio de dados em que é fácil se perder. À biblioteca cabe mediar qualitativamente esse universo torrencial para a construção humanizada da cibercultura — também incorporando a ascensão da Inteligência Artificial (IA) na medida do possível, um dilema característico deste início do Terceiro Milênio.
Portanto, a biblioteca do século XXI, aliada a outros departamentos universitários e escolares diversos, além de tecnicamente inovadora, pode ser entendida como promotora da razão comunicativa. Compete a ela contribuir para transformar os dados em saber crítico, ampliando o legado democrático da prensa de Gutenberg e as novas possibilidades digitais de desenvolvimento humano. Em Bauru, há várias bibliotecas maravilhosas: eu amo especialmente a biblioteca "Cor Jesu", do Unisagrado, e a biblioteca da Universidade de São Paulo (USP). Mas há ainda muitas outras, bibliotecas híbridas, digitais, públicas e privadas, que precisam ser conhecidas e valorizadas pelos leitores bauruenses e da nossa região.
Enfim, que as celebrações da Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, deste ano, nos lembrem que, em meio ao atual dilúvio de dados que ameaça afogar a razão humana, a biblioteca pode ser a arca que ajuda a preservar e estimular a memória, o diálogo e a democracia.
Wellington Anselmo Martins
Mestre em Comunicação
Autor