Seleção Negra e Seleção Branca

Em 19 de dezembro de 1960, Catanduva foi palco de uma disputa futebolística entre a Seleção Negra e a Seleção Branca, integrada pelos principais jogadores de nossa várzea, o que veio despertando grande interesse nos meios esportivos por se tratar de uma partida um pouco diferente das habituais. No ano anterior, Catanduva já tinha sido palco de um jogo envolvendo as duas seleções, que terminaram a partida com um empate de 2X2.

O jogo aconteceu por consequência de uma ação social, em prol do Natal da Criança Pobre de Catanduva, pois a arrecadação foi toda revertida para a Rádio Difusora, responsável pelo projeto.

O evento vinha despertando grande interesse do povo catanduvense, haja vista a enorme procura de ingressos para a partida. De fato, justificou-se o entusiasmo dos catanduvenses, pois se tratava de um espetáculo que merecia ser prestigiado não só pela sua finalidade filantrópica como pelos grandes atrativos de que o mesmo se reveste, como mostra o jornal “A Cidade”, de 16 de dezembro de 1960: “Tanto a seleção negra quanto a Seleção Branca possuem em suas fileiras craques de categoria que despontam como o que de melhor existe no futebol amador catanduvense. E isto é demonstrado nos prélios disputados em anos anteriores, quando os amantes do esporte das multidões tiveram oportunidade de presenciar a magníficos espetáculos”.

O jogo

Iniciado o jogo, o time branco foi o primeiro a dar as cartas, desenvolvendo um bom futebol em conjunto, existindo entre seus integrantes um bom entendimento nas manobras, notadamente em sua retaguarda onde o médio direito Nininho policiava bem seu setor, municiando melhor ainda o quinteto avançado, pressionando, por vezes seguidas, o time adversário, que, por sua vez, estava um tanto embaraçado, talvez sentindo o peso do campo, completamente encharcado.

Enquanto os defensores da Seleção Negra achavam dificuldades para locomoção com a bola no meio do gramado, os adversários colhiam o fruto deste embaraço, dominando territorialmente, mas sem objetivo certo, pois o goleiro negro também não teve grandes trabalhos no primeiro tempo de jogo.  

A peça avançada da Seleção Branca não conseguiu, neste primeiro tempo, um melhor entrosamento entre seus componentes, uma vez que Ley e Corral, jogavam na frente com os demais, ora retraídos, ajudando a defensiva, ora atacando esporadicamente, o que sem dúvida fez com o que o ataque não merecesse destaque durante os primeiros 45 minutos.

Segundo Tempo

A chuva incessante que caiu durante todo o desenrolar do primeiro tempo paralisou após o intervalo da partida, o que pode ter permitido uma maior movimentação positiva da Seleção Negra neste início de segundo tempo. O preparador Antônio Fermino (Pancho) incumbiu o atacante Armandinho de policiar os passos de Nininho, médio volante contrário, pois este elemento trabalhava livremente em seu setor na primeira etapa do jogo.

Recebendo a marcação segura do adversário, embora insistisse na feitura dos talentos, a Seleção Negra teve de ceder a vitória, frente uma melhor apresentação da Seleção Branca, cujo placar terminou de 3X1 para a Seleção Branca.

Os quadros 

Os quadros estiveram assim formados: Seleção Branca: Jesus (Pirangi), Braido e Mindim; Nininho, Nelson Fubá e Perigo; Corral, Leocádio (Paschoal), Ley, Ditinho (Rato) e Alceu. Entre os dois goleiros, o primeiro foi o que mais interviu, praticando ótimas defesas, sendo ainda favorecido pelo fator sorte. Pirangi também andou bem, não lhe cabendo culpa pelo tento de Armandinho. A zaga apresentou-se muito bem, com maior destaque para o lateral Braido. O trio médio, muito bem entrosado, onde gostamos da atuação de Nininho superior aos companheiros Nelson Fubá e Oraides. A vanguarda esteve regular na primeira etapa e inexistente na fase derradeira, merecendo destaque os nomes de Ley (autos dos dois belos tentos) e ainda Corral. Os demais em plano inferior, embora esforçados.

Seleção Negra: Sinézio (Penê), Edir e Vicente; Sabú (Julião e Zézinho) e Zézinho (Pelé-Mingo), Zé Lino (Mingo); Armandinho (Cardinho-Luizinho), Ney (Sabará), Colete, Zéca e Pelé (Armandinho). O goleiro praticou boas intervenções não merecendo culpa nos gols sofridos. Pepê que o substituiu não teve tempo para aparecer. Edir e Vicente formaram uma boa zaga destacando-se a atuação de Vicente, quase que impecável. Na linha média, Sabú não trabalhou com acerto sendo substituído por Julião e ainda Zézinho, os quais deram uma melhoria no trabalho de armação. No centro da intermediária, Zézinho e Julião (revezamento) foram bem auxiliados por Ney que passou para médio volante. Mingo e Zé Lino, um tanto embaraçados. No ataque, Armandinho, autor de um bonito gol e Colete, os melhores. Os demais em plano inferior.

Os gols foram marcados por Ley (2) e Alceu para a Seleção Branca e Armandinho para o quadro perdedor.

Arbitragem e arrecadação

Cooperando com a iniciativa, o Sr. Gerci Belucci, da Liga Catanduvense de Futebol, dirigiu o encontro, apresentando-se muito bem. Assinalou o pênalti – não convertido – em cima do lance (bola na mão), não tendo sua atuação qualquer influência no marcador. Acredita-se que a arrecadação tenha alcançado a cifra de 4 mil cruzeiros.

Preliminar

Como estava previsto, o prélio aperitivo foi realizado entre as seleções Infanto-Juvenis de nossa cidade e de Santa Adélia, cujo marcador favoreceu a representação feiticeira por 1 a 0. O péssimo estado do gramado, como era natural, impediu a garotada das duas seleções de se locomoverem à vontade, prejudicando o transcorrer normal do embate. Entretanto, as duas equipes lutaram bastante, principalmente a catanduvense que merecidamente, chegou ao triunfo pela contagem mínima.

Muito embora não contassem os organizadores do jogo com a força máxima dos juvenis que disputaram o jogo, ainda assim tivemos a oportunidade de ver em ação em excelente selecionado, que, embora tendo contra si o péssimo estado da mancha, desenvolveram um futebol prático, com bola no chão que envolveu completamente a representação visitante.

A primeira etapa terminou com o marcador em branco. A vitória catanduvense só surgiu no final da segunda etapa, quando da cobrança de uma falta contra os visitantes. A pelota foi rolada para o zagueiro Dailton que, com um forte tiro rasteiro, venceu o guardião visitante, estabelecendo a vantagem de um a zero para os locais. 

O selecionado catanduvense se jogou assim formado: Tite (Caio), Sérgio e Dailton; Varô, Trovão e Volei (Dadí); Moacir, França (Pepita), Japonês, Cido Careca (Tí) e João Garcia. Foi árbitro da partida o excelente atuante Clóvis de Oliveira.

Fonte de Pesquisa:

- Jornal “A Cidade”, de 16 de dezembro de 1960.

- Jornal “A Cidade”, de 20 de dezembro de 1960.

- Material pesquisado no Centro Cultural e Histórico Padre Albino.

Fotos:

Time de futebol de salão do Guarani, tirada no ano de 1976. Estão na foto da esquerda para a direita: Vinhal, Tadeu Martani, Nardi, Nei Monteleone e Nelson Fubá. Agachados: Eribelto e Toninho. Nelson Fubá foi um dos jogadores que faziam parte da Seleção Branca no referido jogo de 1960

Time de futebol do SESC Catanduva, em 1961. Estão na foto de pé e da esquerda para a direita: Chaninha, Branca, Nenê, Chico Lopes, Sílvio Lopes, Otavinho, Boca e Nelsinho. Agachados: Zé Lino, Dionísio, Baltazar, Santo Manini e Maurício. Zé Lino compôs o time da Seleção Negra no ano de 1960 

O jogo aconteceu por consequência de uma ação social, em prol do Natal da Criança Pobre de Catanduva, pois a arrecadação foi toda revertida para a Rádio Difusora, responsável pelo projeto. Nesta foto, vemos o Estúdio da Rádio Difusora de Catanduva com o programa sertanejo de José Melhado patrocinado por Miguel Monteleone

 

O evento vinha despertando grande interesse do povo catanduvense, haja vista a enorme procura de ingressos para a partida. De fato, justificou-se o entusiasmo dos catanduvenses, pois se tratava de um espetáculo que merecia ser prestigiado não só pela sua finalidade filantrópica como pelos grandes atrativos de que o mesmo se revestia. Nesta foto, Estádio Sílvio Salles na década de 1950

 

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.